Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009

O colapso económico e outras considerações

Uma introdução marginal

 
Desde a viagem de regresso à terra do gelo e do fogo que pretendo postar sobre o colapso dos bancos do país, ocorrido em Outubro passado. Da intenção à publicação passaram mais de 2 meses, transformando este num post adiado.
Não tenho formação em economia e sendo assim, esta é a dissertação possível, redigida por um leigo. Mas todo o ser humano é imbuído de inteligência, sensibilidade e percepção e se juntarmos a isso, alguma atenção e capacidade de leitura, poderemos desenvolver um sentido crítico que permita uma abordagem pessoal (subjectiva) da temática.
Não acredito que as ciências sociais, mesmo recorrendo ao máximo rigor metodológico, consigam ultrapassar a barreira da subjectividade. É que as instituições que produzem ciência são constituídas por pessoas, que apesar de todo o esforço, estão condicionadas pelas suas vivências individuais. Os paradigmas, estão assim sujeitos a um prazo de validade, fruto da época e regulados pelas convicções de quem faz e produz ciência (e não só!).
A história tem-nos demonstrado que a mutação é uma constante, não sendo as verdades eternas ou absolutas.
Resta-nos acreditar que a Inteligência e a Cultura faz-nos seres humanos mais disponíveis e menos rígidos, prontos a dispensar a estilística retórico-dialético-demagógica, que normalmente é servida com vestes de presunção.
 
O colapso económico
 
O resto do mundo olhava com desconfiança para o milagre económico islandês e estes, do cimo da sua sobranceria, riam-se disso. Mas os meses de Setembro e Outubro de 2008 vieram demonstrar a fatalidade de um capitalismo desregrado, da especulação e do crédito fácil.
A crise terá começado com as sub-prime americanas (hipotecas de alto risco revendidas como produtos de investimento para o mundo). Quem investiu nesses produtos “tóxicos”, aliciado por juros mais altos, mas frutos da especulação de um sistema sem regras, acabou por perder tudo. Ao primeiro alarme de crise, a desconfiança dos bancos relativamente a outros cortou as linhas de crédito entre eles e depois foi a bola de neve começar a rolar…
O problema islandês explica-se facilmente. Os bancos cresceram desproporcionalmente à economia real do país. Com sucursais e clientes em diversos estados, o seu património chegava a ser quase 12 vezes o PIB (produto interno bruto) da ilha.
A Islândia é um país super consumista onde todas as pessoas (independentemente da idade) tinham e compravam a crédito.
Quando as linhas de crédito entre os bancos internacionais deixaram de funcionar e o sistema bancário do país começou a ter dificuldades de financiar as operações, foi o ruir da economia islandesa, já que o “pobre” estado era uma formiga à beira da dimensão e do volume de clientes e depósitos dos bancos do país.
Só que aqui entram alguns erros para ajudar na “festa”. Erros que a mim não me admiraram nada, dado que vem na sequencia de um post anterior (Considerações sobre a Islândia:http://iceland-views.blogs.sapo.pt/8696.html). Nesse post, editado antes do colapso económico do país, dava conta da sobranceria e arrogância islandesa, tão ao jeito de quem vive fechado na sua ilha, urrando como vikings com roupas do século XXI. O Islandês médio gosta de dizer que os europeus (leia-se União Europeia) são demasiado vagarosos. Para um islandês é difícil entender que é preciso saber parar e reflectir, com o intuito de rentabilizar e fazer bem.
Um país construído através da disponibilidade física, necessária para aquela que ainda é a principal actividade dos país, a pesca, a que se junta as exigentes condições climatéricas do passado sem o conforto das ultimas três décadas e o isolamento relativamente ao mundo que se reflecte num certo eremitismo social, condicionou o desenvolvimento de certas técnicas de subtileza e de polimento social. É através da Arte e Cultura que o islandês tenta ir buscar essa beleza e graciosidade que lhe falta. Uma amiga brasileira que visitou a Islândia no último verão, numa explicação de momento, sugeriu que as montanhas mais áridas necessitam de proteger as poucas flores que as embelezam. A Arte e a Cultura são as flores que embelezam o dia a dia das frias relações sociais na Islândia. Assim, essas manifestações tem sido de crucial importância, embora muitas vezes sejam mais devoradas do que contempladas. O Islandês na sua aura de "destemeridade" (e isso eles são!) age como estando sempre correcto! Existe algo de primário nesse comportamento, lembrando-me o finório português que pegando no automóvel, faz o IC1 Póvoa – Porto em 15 minutos, pé a fundo no acelerador. Chegado ao destino final, na inconsciência do perigo de tal forma de conduzir, vai berrar entusiasmado a sua saga, julgando ser o maior do bairro que para ele é a representação do mundo.
Mas verdade seja dita, para o islandês não existem perigos, ou não se tratasse de um sobrevivente da (sua curta) História.
Quando se pode olhar o mundo, entre garrafas de cervejas, num resort mediterrânico, há uma tendência para a arrogância – não compreendemos que, visto na distância de um resort (ou da Islândia), tudo se torna indistinto e acabamos por imaginar as coisas em vez de vê-las. Uma viagem às cidades e aos países reais, mesmo que nas férias, seria uma boa terapia para estes intrépidos vikings.
Mas o erro que ajudou à festa foi a desnecessária frente de batalha com os ingleses. Com aquele jeito de quem ergue a espada, o primeiro-ministro Geir H. Haard, resolveu dar o "calote" nos depositantes britânicos (e não só), anunciando na televisão, após a nacionalização dos bancos, que não pagaria um euro aos súbditos de sua majestade.
Sabemos que existem coisas que podemos pensar, mas nunca dizer. Um país na bancarrota necessitaria de uma diplomacia mais sagaz.
Ser polite nunca foi o forte dos vikings. Acontece que o primeiro-ministro britânico G. Brown não se atemorizou com este acto destemido (a guerra do bacalhau não se repetiu desta vez) e recorrendo à lei anti terrorista britânica, confiscou todo o património dos bancos islandeses na Inglaterra. Contudo, a acção britânica não ficaria por aí. A Islândia na bancarrota necessitava de dinheiro urgente, para que a ilha não se afundasse por completo. O gigante britânico facilmente jogou a sua diplomacia nas instituições internacionais (e sabemos que os britânicos não dão ponto sem nó). O resultado foi o FMI ter desbloqueado rapidamente um empréstimo no valor de 2,1 mil milhões de dólares, mas só depois de o governo islandês ter chegado a um acordo com a Inglaterra, a Holanda e a Alemanha e ter assumido restituir os depósitos de clientes estrangeiros nesses países, num máximo de 26 mil dólares por cliente. O valor total que o governo islandês terá de pagar a esses países ronda os 4.3 bilhões de dólares. Sabendo que a Islândia não possui esse dinheiro, a Inglaterra, Holanda e Alemanha irão emprestá-lo de forma a ser usado para pagar as restituições.
Assim, de um dos países mais ricos do mundo por habitante, a Islândia passou para um dos países mais endividados do mundo por habitante!
Embora descontextualizando, recordo a frase de Muhammad Yunus, Prémio Internacional Símón Bolivar em 1996 e fundador do Banco Grameen, que numa reflexão no seu livro “O Banqueiro dos Pobres” diz: “… É extremamente difícil ao devedor libertar-se do ónus do empréstimo. Habitualmente, é obrigado a pedir emprestado outra vez para reembolsar o empréstimo anterior, e, por fim, a única saída é a morte.”
 
O dia em que os islandeses começaram a lutar
 

Protestos em 8 de Novembro, em frente ao parlamento em Reykjavík

 

Quando à pouco mais de 1 ano cheguei à Islândia, uma significativa parte do trabalho da polícia era dedicado aos distúrbios e violência, originados pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas no país, bem como ao controle do tráfego rodoviário e dos respectivos limites de velocidade.
Os agentes da autoridade não usavam armas de fogo e embora o número de roubos e assaltos em Reykjavík estivessem a crescer, não tinham a expressão actual. Muitas das viaturas ainda passavam a noite com as portas destrancadas. Apesar disso, o crescente uso de estupefacientes e a pequena associação criminosa (esta residual e atribuída exclusivamente a emigrantes lituanos e polacos) era já uma realidade.
Os islandeses nunca foram de grandes manifestações. Se recordarmos, os protestos do Saving Iceland (ver post sobre o futuro da economia islandesa e a polémica do alumínio: http://iceland-views.blogs.sapo.pt/4127.html) contra a instalação da indústria transformadora das fábricas de alumínio, que vinha a afectar o equilíbrio ecológico da ilha, nunca conseguiu mobilizar mais do que um punhado de pessoas.
Quando pela força das consequências, os islandeses tomaram consciência que a sua economia era um mau filme de ficção, começaram a manifestar-se todos os sábados, frente ao parlamento em Reykjavík.
A data de 6 de Outubro de 2008, ficará na história como o dia em que as manifestações de protesto contra o governo e o presidente do banco da Islândia se tornarem inevitáveis. Foi o dia em que o primeiro-ministro fez o discurso do desastre, do crash da economia islandesa. A partir dessa data, todos os sábados, grupos de pessoas começaram a manifestar-se em frente ao parlamento em Reykjavík, num crescendo proporcional ao aumento do desemprego e ao desaparecimento das suas economias. A primeira manifestação contou com 500 pessoas e em 22 de Novembro, foram cerca de 7000 pessoas (o país tem pouco mais de 300 mil habitantes).
As manifestantes eram de todas as idades e os ajuntamentos englobavam desde pró americanos até à esquerda mais anti americana.
Os protestos tinham início às 16 h e tomates, ovos, molhos de hambúrguer e outras iguarias passaram a ser constantemente arremessadas contra o parlamento, chegando a partir as janelas (pode não parecer nada de relevante para quem está já familiarizado com protestos em outros países, mas acreditem que na Islândia isto era algo de novo!). Num acto de provocação, um dos jovens subiu para a varanda do parlamento e colocou no mastro uma bandeira com a inscrição Sold to the IHF for 2 Billion Dollars.
A polícia foi tendo o cuidado de não intervir activamente, consciente que as coisas poderiam facilmente sair do controle. Apesar disso, Um grupo de intervenção das forças policiais denominado the Viking Squad esteve sempre alerta, retirando das esquadras coletes, gás pimenta, e outros utensílios habituais nos grupos de choque. Todo esse material, por fim sacudiu o pó que durante anos foi acumulando dentro dos armários.
Entre os vários episódios ocorridos nestas manifestações, destaque para o acto audacioso de um jovem do Saving Iceland, que subiu ao telhado do parlamento e hasteou a bandeira da cadeia de supermercados Bónus. Esta cadeia de supermercados é parte do império de Jón Ásgeir Jóhannesson, o maior empresário na área da alimentação e que detém parte dos media. Ele é uma das personagens centrais do colapso, na medida em que era o maior accionista do Glitnir, o primeiro banco que foi nacionalizado.
No dia 1 de Dezembro de 2008 comemorou-se os 90 anos da Independência do estado islandês, apesar de apenas se ter tornado república em 1944. Milhares de pessoas concentraram-se junto à estátua de Ingólfur Arnarson, o primeiro colonizador da ilha. Depois dos discursos habituais, optaram por atribuir as maiores culpas da situação a David Oddsson, o presidente do banco da Islândia, definitivamente o homem mais odiado no país actualmente.
Um grupo de dezenas de manifestantes resolveu então ir manifestar-se para o banco da Islândia e quando lá chegou deu de caras com 3 policias a guardar a porta de entrada. Como habitualmente começaram a atirar tomates e ovos, colorindo a entrada do Banco e os desgraçados agentes da autoridade.
Surpreendentemente, os agentes policiais abandonaram o seu posto, sob os aplausos da pequena multidão. Só quando os manifestantes subiram ao segundo andar se aperceberam que tinham aplaudido cedo demais. Por detrás da grossa porta de vidro, 30 polícias equipados, serviam de barreira, impedindo a passagem do ruidoso grupo. Nessa altura, é comunicado aos manifestantes que a manifestação tinha sido declarada de ilegal e que iriam usar gás pimenta para dispersar o ajuntamento, caso eles não o fizessem de livre iniciativa. Os sprays de gás foram utilizados, acabando muitos dos manifestantes no exterior agarrado aos olhos macerados.
Uma das tiradas mais interessantes de um manifestante foi: They won`t look into your eyes!. Podemos viver em guerra, mas nunca deixar de abraçar o humor!
Na passagem do ano um grupo de aproximadamente 500 manifestantes revoltados conseguiu silenciar um programa de televisão em directo no hotel Borg, com a presença do primeiro-ministro, queimando os cabos da emissora.
A intervenção policial, recorreu ao gás pimenta, enquanto os manifestantes respondiam com balões de água e foguetes (na passagem do ano é tradição todas as famílias comprarem foguetes e bombardear os céus entre as 21 h e as tantas da madrugada).
É engraçado ver no vídeo em anexo, os cozinheiros e restante staff do hotel a impedirem os manifestantes de entrar. É preciso contextualizar que este é um país de 300 mil habitantes, onde todas as pessoas, quando não se conhecem, têm pelo menos algum conhecido em comum. Ou seja, dos dois lados da barricada estão pessoas que no dia seguinte estarão a tomar uma cerveja juntos!
O que vale é que os Vikings batem-se num dia, e no outro confraternizam! Like in the past!
 

Protestos no hotel Borg em 1 de Janeiro de 2009

 

A queda do Governo e a crueza dos números de desempregados
 
Ao fim de tantos protestos o governo caiu (o governo de coligação de centro-direita englobava o partido da Independência e os sociais democratas). O primeiro-ministro Geir Haarde, anunciou ontem o que à muito era esperado. Já uns dias antes, tinham sido marcadas eleições antecipadas para 9 de Maio (as eleições numa situação normal seriam apenas em 2011).
O Presidente do país convidou, entretanto, os sociais-democratas, em rota de colisão com o partido de Geir Haarde na coligação do governo, a coligar-se com a esquerda, nomeadamente com os Verdes. É possível que as eleições possam vir a ser antecipadas novamente, afinal a Islândia é um país à deriva.
Neste momento, o único a assumir politicamente culpas da situação foi o Ministro do Comércio que no seu último acto demitiu o presidente do Fjárlmalaeftirlit, a Autoridade de Supervisão Financeira, responsável pela supervisão da expansão dos bancos (em Portugal está sobre a tutela do Banco de Portugal).
Entretanto, o desemprego tem vindo a aumentar rapidamente. Num espaço de um ano passou-se dos residuais 0,5% para mais de 6%. Em 27 de Janeiro de 2009, no Instituto de Emprego estavam inscritos mais de 12.800 pessoas. Grande parte em Reykjavík e perto de 800 em Akueryri). Se estes números não são maiores é porque o sector da construção civil que praticamente parou, era constituído por mão-de-obra estrangeira. Após o mês de Outubro, por falta de trabalho, retornaram aos seus países de origem.
Ainda de referir, que o aumento do desemprego e a desvalorização brutal da krona islandesa (Se trocar para euros, neste momento o meu salário é praticamente metade do que ganhava à um ano), faz com que alguns islandeses comecem a emigrar.
Somando estas duas variáveis, compreende-se o motivo de o numero de desempregados não ter ainda atingido os dois dígitos.
De referir também, que a empresa Creditinfo, publicou num recente artigo que cerca de 3500 empresas estão em risco de falência no ano de 2009, representando cerca de 11,5% das empresas registadas no país (num universo de aproximadamente 30.000 empresas registadas). Além disso, muitas das empresas sobreviventes irão ter de reduzir custos e inevitavelmente, despedir trabalhadores.
 
O papel do Estado
 
Uma das coisas mais admiráveis na Islândia é a protecção social e do trabalhador. Além do respeito (e grande receio) que existe por parte das empresas relativamente ao eficaz sindicato dos trabalhadores, o estado desempenha um papel importante nesta matéria.
Aquela maquinazinha, normalmente colocada numa parede, que em Portugal é conotada, muitas vezes, como controlador do trabalhador, na Islândia parece servir mais, para defender o mesmo trabalhador. É prática comum aqui receber-se à hora. Cada minuto fora do horário normal de trabalho (9 h – 17 h) é pago como hora extra. No fim de semana, o valor percentual da renumeração aumenta, recebendo-se ao Domingo, 35% acima do vencimento normal, em cada hora de trabalho.
As empresas respeitam isto, até porque a fiscalização e o sindicato dos trabalhadores, à mínima queixa de um funcionário, aparecem na empresa. O Estado, a fazer as contas, das pessoas que emprega, é também de uma correcção exemplar. Oxalá o despoletar da crise não altere o que eu considero exemplar no país.
Como referi acima, ao primeiro pé colocado fora da ilha, o que eu recebo hoje em dia na estância de esqui em Hlidarfjall, desvalorizou para metade. Mas não foi só a desvalorização da moeda que afecta os números do meu ordenado, no fim de cada mês. É que o Estado está a cumprir o seu papel, mesmo que em meu prejuízo. Vou passar a explicar:
Com o aumento do desemprego, a politica que tem vindo a ser adoptada pela Câmara Municipal de Akureyri (a estância de esqui é pertença da edilidade), é a de redução das horas de trabalho dos seus funcionários, de forma a empregar o número máximo de pessoas. Ou seja, o sacrifício de alguns, que com essa medida sofrem uma redução do ordenado ao fim do mês, em prol de mais pessoas terem as suas necessidades básicas (alimentação, possibilidade de pagar a casa, etc…) asseguradas. Desta forma, pretende-se que a população tenha um dia a dia normal, tendo em conta as condicionantes de um colapso económico.
Esta tem sido a politica do falido estado islandês, que mesmo de saúde tão periclitante, recorrendo a uma redução de ordenados e das horas de trabalho de alguns, não só tenta não despedir funcionários, como procura empregar o maior número de pessoas. Assim, cumpre o seu papel de protecção social e é estandarte de esperança, daqueles que sem culpa alguma, foram apanhados pela crise económica, despoletada por alguns, e da qual o próprio estado não pode deixar de assumir responsabilidades.
Sei que sou prejudicado, mas sei também que numa altura de dificuldades seria duplamente egoísta e imoral, a individualidade sobrepor-se ao colectivo.
 
O Mito
 
À alguns dias atrás, no telejornal em Portugal, passou uma reportagem, em que se falava do aumento das provocações e agressões a estrangeiros na Islândia. Não vou abordar neste post a temática do racismo. Em situações de instabilidade social e aumento do desemprego, inevitavelmente os emigrantes são o elo mais fraco. Aqui e em qualquer parte.
A verdade é que pouco antes do colapso uma equipa da TV Record brasileira veio à Islândia fazer uma reportagem. No final, o que foi para o ar foi um paraíso irreal que só existe na cabeça de quem desconhece a realidade. A ausência do vivencial, leva as pessoas a imaginar maravilhas que só existem quando olhamos o outro por uma janela. Descer à rua mostra-nos sempre outra realidade.
Creio que existe um mito sobre os países nórdicos. No caso islandês, este é um país nórdico atípico. Mas quem leu alguns posts anteriores já conhece algumas das minhas opiniões.
A baixa densidade populacional, é para mim uma das variáveis que permitiu aos países nórdicos apresentar uma boa qualidade de vida, nomeadamente na variável económica.
Thomas Robert Malthus, escreveu no século XIX, dois ensaios sobre o princípio da População, defendendo que o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade, já que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Queria isto dizer que a produção de alimentos não acompanharia as necessidades que o crescimento geométrico da população iria sentir.
A Islândia tem um território 10% superior a Portugal e apenas 300 mil habitantes. Imagine-se 11 milhões de habitantes na ilha e as inevitáveis consequências sociais, económicas, bem como a interferência castradora do meio ambiente.
Todos os países nórdicos tem uma reduzida densidade populacional. Contudo, as taxas de suicídio são das maiores no mundo.
Somos seres eminentemente sociais e quando se fala de economia na televisão, parece que por vezes, todos estão esquecidos que estão a falar numa ciência social.
publicado por Ivo Gabriel - Iceland Views às 12:08
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De Joao a 4 de Fevereiro de 2009 às 14:25
Estive na Islandia há quase 2 anos, em passeio com mais amigos, durante aprox 1 semana. 1 semana em que se deu a volta à ilha, dando para perceber que não há mtos contrastes sociais e culturais. pode ser um país vasto, mas o facto de a população ser em pequeno número deve ser um dos principais factores.
adiante. Curiosamente, algo que me fez invejar a mentalidade dos vikings foi (e pelos vistos, deve ser a excepção à regra) o facto de não ter encontrado os vistosos carros que se vêm, por ex em Portugal. exemplo: número de mercedes ou bmw, é bastante reduzido. pelo contrário, optam por jipes (com todo o sentido prático-invernal) ou por carros fiáveis e de baixo consumo. ou seja, deu-me a ideia que, pelo menos ao nível do disparate do gasto com automóveis, são regrados. e, acima de tudo, implica menor importação de petróleo e dependência de certos factores exógenos.
pelos vistos, o que ainda vai mantendo o país à tona é a independência energética. valha-lhes isso, coitados dos vikings.
estava a pensar este ano voltar à Islandia em férias, aproveitando o custo de vida estar acessível para nós. valerá a pena?
bom, apesar de tudo, espero que esteja tudo a correr bem. boa estadia pela terra dos vikings
De Ivo Gabriel - Iceland Views a 9 de Fevereiro de 2009 às 20:30
Caro João,
Não me pareceria boa ideia um investimento massivo dos vikings num Mercedes SLK 200, tendo em conta que, praticamente, só a estrada numero 1 é alcatroada em toda a sua extensão e sem pedaços em gravilha. De resto, gostaria de ressalvar que a Islândia é, a seguir ao Luxemburgo, o país no mundo com mais carros por habitante. Já agora, não me parece que grande parte desses jipes sejam mais baratos que os Mercedes e BMW em Portugal. Além disso, acredita que o investimento no tunning e o "interesse" por carros, é um facto em muita da juventude na ilha. Não te esqueças que uma das razões do crash islandês se prende com o consumismo excessivo e o crédito fácil que foi alimentando isso.
Espero que regresses à Islândia para visitares o que faltou, ou revisitares o que já viste. Não será muito mais barato visitar a ilha, por muito que o marketing islandês tente passar essa ideia.
Claro que o euro está mais forte. Tão claro como a maioria dos bens de consumo custarem o dobro! É a famosa inflação...
De qualquer forma, a natureza continua pujante, única, capaz de nos encantar pelas formas e cores únicas com que se expressa. Continua a merecer uma visita!
Abraço!
De Joao a 10 de Fevereiro de 2009 às 12:11
esqueci-me da questão dos carros.. na altura fiz a comparação da Islandia com a Madeira, que como sabes não produz nada (excepto vinho e.. "turismo") e onde nos cruzamos com carros topo de gama por todo o lado, quando têm uma mísera "auto-estrada" de 8-10kms.
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