Quarta-feira, 28 de Março de 2012

Ekki Múk - O regresso dos Sigur Rós

 

 

Música delicada, mais doce do que agre (embora também), mais uma vez remete-nos ao onírico. Cada pequeno som poderia ser o serpentear da neve cruzando a estrada, no inverno islandês. Por vezes, essas serpentes brancas apenas se estendem, contorcendo-se em movimentos preguiçosos. Outras vezes, formam cortinas impelidas pelo vento forte que nos retira o espaço, envolvendo-nos numa outra dimensão. Flutuando além do nosso tempo, somos transportados pelo som dos Sigur Rós. A saga do pós rock retro ambiental de contornos vanguardistas, é a melhor representação da dimensão dos espaços intocados e da natureza na Islândia. Ekki Múk, a nova música, precede o álbum a sair em Maio próximo. Tem tudo o que a banda nos habituou (incluindo a estética do vídeo). Demasiada beleza que não retirou um pequeníssimo travo a "déja vu", relativamente aos anteriores álbuns dos Sigur Rós. Um dia, gostaria de ser um dos passageiros do barco no vídeo.

publicado por Ivo Gabriel - Iceland Views às 00:39
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Domingo, 25 de Março de 2012

A "Saga" do Great Auk Skerry

 

 O Extinto Great Auk Skerry

No post anterior o conto, de "ruiva" a baleia demoníaca, inicia-se em Geirfuglasker uma ilha rochedo, inacessível aos humanos, não só pelos penhascos impressivos e escarpados, mas também pelas correntes marítimas que a circundava. Geirfuglasker significa rochas dos Great Auk Skerries (geirfugl significa Great Auk em islandês), uma ave marinha mítica na Islândia, que se acredita extinta. Pertencia à família dos pinguins (Pinguinus impennis).

O Great Auk, talvez seja a ave extinta mais famosa do mundo, ao lado do Dodo. Habitavam o Oceano Atlântico Norte, em diversos pontos da América do Norte, Gronelândia, Islândia e Europa. Apesar da similaridade com os pinguins do Atlântico Sul, não lhes deviam qualquer parentesco. Passavam 10 meses do ano no alto mar, caçando peixes e lulas, retornando à ilhas oceânicas para reprodução, em grandes colónias. Nessas poucas semanas em terra firme, os Great Auks eram perseguidos pelos humanos. Existem indícios de que a espécie era perseguida pelo homem à cerca de 100 mil anos atrás, mas foi durante os séculos 16 e 17 que os Auks passaram a ser caçados com uma maior intensidade. No início do século XVIII os Great Auks Skerries já se encontrava limitados a algumas ilhas mais isoladas. A maior das colónias reprodutivas passou a ser na Ilha de Funk, em Newfoundland, no Canadá, onde as aves se concentravam em grandes números entre Maio e Junho. Infelizmente para os Auks, a llha de Funk era o primeiro ponto de terra firme para os navegadores vindos da Europa em direção à América do Norte. Marinheiros famintos atracavam na ilha e matavam centenas destas aves. No final do século XVIII esta grande colónia havia sido devastada e a espécie sobrevivia apenas em algumas poucas ilhotas isoladas na costa da Islândia. Em uma dessas, pelo menos, a espécie parecia estar segura. Era na Ilha de Geirfuglasker, que contava com correntes fortíssimas e ondas grandes, sem nenhum acesso para se atracar de barco. Enquanto a espécie era massacrada em outras ilhas próximas, a colónia de Geirfuglasker sobrevivia.

Mas o destino tem alguns caprichos incontornáveis e no inverno de 1830 uma explosão vulcânica submarina faz com que a ilhota de Geirfuglasker desapareça no mar. Talvez fosse cómico se não tivesse sido trágico. Quando em Maio desse ano os Great Auks retornarnaram para a ilha, viram que ela havia simplesmente desaparecido e escolheram a ilhota próxima chamada de Eldey para acasalarem. Apesar de ter também, um difícil acesso, não era o suficiente para evitar a ganância humana, e lá sim, o homem conseguiu chegar. Havia cerca de 50 Great Auks em Eldey em 1835, 24 Great Auks foram mortos. Um ano mais tarde capturaram mais 13 Great Auks. Em cada viagem se trazia um número menor, até que em Junho de 1844 apenas dois indivíduos, um macho e uma fêmea chocando um ovo, foram mortos. Nunca mais um Great Auk Skerry foi visto.

A captura desses últimos 2 Great Auks é descrita em detalhes por John Wolley e Alfred Newton, dois ornitólogos que na altura pesquisaram o assunto pormenorizadamente: "No dia 2 ou 3 de Junho um barco a remo com 8 pessoas chegou à Ilha de Eldey, onde desembarcaram 3 homens. Logo eles viram dois Great Auks Skerries, no meio de centenas de outras espécies, como gaivotas. Perseguiram os Great Auks e estrangularam os dois. Já sabendo da raridade desta espécie, os dois homens resolveram regressar e ir até à capital da Islândia, para tentar vender as espécimes a colecionadores. No caminho encontraram um colecionador, que comprou as duas espécimes. Não se sabe onde foram parar esses 2 Great Auks, mas tudo indica que possam ser as espécimes dos museus de Los Angeles e Bruxelas."

 

publicado por Ivo Gabriel - Iceland Views às 23:03
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Quinta-feira, 15 de Março de 2012

"Ruiva", a baleia demoníaca do Hvalfjördur

 

 O Hvalfjörður (fiorde da baleia)

 

Os Contos populares islandeses são um imaginário riquíssimo, de estórias mágicas povoadas por elfos, trolls, fantasmas e espíritos de uma fantástica diversidade.

Numa "postagem" anterior falei sobre a relação dos islandeses com os elfos, introduzindo o imaginário mitológico das crenças populares islandesas. Hoje vou "narrar-vos" um dos contos populares com que brindo os clientes, sempre que depois de sair de Reykjavík, atravesso o túnel que passa por baixo do Hvalfjörður. Este túnel é hoje a porta de entrada para a denominada costa oeste (west coast) islandesa.

 

Contextualização histórico-geográfica

 

A estória tem lugar no fiorde Hvalfjörður. Com a abertura do túnel em 1998, a estrada nº1 - "ring road", que circunda a ilha, atravessa por baixo o fiorde. Mas antes, era necessário percorrer a estrada nº 47, que contorna e leva os visitantes aos lugares mencionados no conto.

Hvalfjörður significa "fiorde da baleia". Tem cerca de 30 km de extensão, 4-5 km de largura e 80 m de profundidade máxima. No final do fiorde as montanhas são íngremes, quase até à agua e ramifica-se em 2 partes: Brynjudalsvogur e Botnsvogur. O fiorde é assim secundado por montanhas esplêndidas: Byrill e Reynivallasháls no sul, múlafjall, Hvalfell (montanha da baleia) e Botnssúlur a norte. Para lá das montanhas, a leste do fiorde, fica o Hvalvatn (lago da baleia), com cerca de 160 m de profundidade. O rio Botnsá desliza desde o lago formando a cascata de Glymur, a mais alta da Islândia com 198 m de altura. A origem do nome do lago, da montanha e do fiorde é explicado pelo conto.

 

 O Hvalfjörður no Verão

 

O Conto

 

Era uma vez...

Alguns homens de Suðurnes na península de Reykjanes foram até Geirfuglasker * para apanhar Great Auk Skerries. Na hora do regresso um dos homens ficou perdido e voltaram sem ele, acreditando que tinha morrido.
um ano mais tarde os mesmos homens regressaram até Geirfuglasker e encontraram o companheiro desaparecido vivo. Segundo a lenda, os elfos tinham lançado um feitiço, apanhando e abrigando-o durante essa temporada. Mas ele não estava satisfeito com os elfos e decidiu regressar com os restantes companheiros. Constou que ele, nesse entretanto, tinha engravidado uma mulher elfo que o fez prometer baptizar a criança se um dia ela a levasse até ele, junto de uma igreja.

Uns anos mais tarde, houve uma missa na igreja de Hvalsnes e um berço apareceu à porta da igreja com a seguinte nota: "O homem que for o pai deste bébé deverá certificar-se que ele é baptizado". As pessoas ficaram atónitas e o padre suspeitou que o bebé pertenceria ao homem que passou um ano em Geirfuglasker. O padre pressionou o homem a admitir ser o pai mas este negou. Nesse momento apareceu uma mulher muito alta, luminosa e entroncada. Ela virou-se para o homem e disse: " vou lançar um feitiço e vais transformar-te na mais temível das baleias do oceano e afundar muitos navios". Depois apanhou o berço e desapareceu sem deixar qualquer rasto. todas as pessoas assumiram ser a mulher elfo de Geirfuglasker, onde o homemtinha passado um ano. logo após o desaparecimento da mulher o homem começou a contorcer-se como se tivesse enlouquecido e desatou a correr aos saltos em direcção ao mar. Quando lá chegou saltou de um penhasco denominado de Hólmsberg, situado entre Keflavík e Leira, transformando-se instantaneamente na pior e na mais diabólica das baleias. Foi baptizada de "Ruiva", por causa de um chapéu vermelho que o homem levava colocado na cabeça, quando se atirou ao mar. A baleia tornou-se um flagelo e reza a lenda que afundou mais de 19 navios entre Seltjarnarnes e Akranes.

Com o passar do tempo, a baleia passou a abrigar-se num fiorde entre Kjalarnes e Akranes e assim nasceu o nome de Hvalfjörður (fiorde da baleia). Nessa altura, vivia um padre em Saurbær, nas redondezas do fiorde. Esse padre, de poderes sobrenaturais, era velho e cego e tinha três filhos. 2 rapazes e uma rapariga. Às vezes, os seus filhos iam pescar no mar, à saída do fiorde e um dia foram apanhados pela baleia assassina, tendo morrido afogados. O padre sofreu uma dor profunda com a morte dos filhos e pediu à filha que o guiasse até às aguas do fiorde, que próximo da quinta de Saubær, onde moravam. Levou com ele uma pau de madeira e percorreu o caminho com a ajuda da filha. Lá chegados, espetou o pau no chão, dentro da agua e regressou para trás. Nessa altura, perguntou à filha como estava o mar. Ela respondeu que parecia um espelho de agua, calmo e sereno. Passado mais uns minutos o pastor volta a fazer a mesma pergunta à filha e ela respondeu que estava a ver uma grande sombra negra a emergir até à tona da agua como se fosse um enorme peixe. Quando a filha disse que essa enorme sombra negra tinha vindo ao encontro deles, o padre pediu que o levasse terra adentro percorrendo a linha da costa do fiorde. A sombra negra acompanhou-os o tempo todo, até ao fim do fiorde. Consoante o fiorde ia ficando mais estreito e a agua menos profunda a menina reparou que a sombra tinha a forma de uma enorme baleia que nadava ao longo do fiorde como se estivesse sendo guiada. ao chegarem ao fim do fiorde, onde desemboca o rio Botnsá o padre disse à filha que o conduzisse para a margem oeste do rio. Lá chegados, o velho padre começou a escalar a montanha acompanhado da baleia, que dava difíceis saltos na agua, para acompanhar o velho padre. O curso de agua era pequeno e a baleia enorme. Quando chegaram à garganta onde a cascata deixa cair as suas aguas vindas do topo da montanha, o espaço era tão ínfimo para o cetáceo que este começou a abanar e a debater-se com forca para subir o curso de agua. Quando finalmente subiram a cascata, tudo à volta começou a estremecer como se fosse um grande tremor de terra. Das rochas saiu um grande troar, como se de uma trovoada se tratasse. Daí o nome da cascata - Glymur (rugido/troar) e as encostas que circundam a cascata são conhecidas como Skálfandahæðir (encostas que tremem/estremecem). Mas o padre estava decidido e não parou até levar a a baleia até ao lago de onde o rio Botnsá nascia e que desde então é denominado de Hvalvatn (lago da baleia). uma das encostas do lago tem também o nome de Hvalfell (encosta da baleia). É que quando a "Ruiva" entrou no lago, fê-lo através desta colina.

Quando o velho padre regressou à Quinta com a sua filha todos os habitantes da região e regiões adjacentes ficaram eternamente agradecidos.

Nunca mais ninguém via "Ruiva" a baleia demoníaca, mas foram encontrados recentemente uns impressionantes ossos de baleia no lago, comprovando e reforçando a veracidade desta lenda.

 

* Geirfuglasker era um ilhéu ou um conjunto de rochas solitárias, localizadas a sul do arquipélago de Vestmannaeyjar. e que desapareceu no mar devido a uma erupção vulcânica marinha em 1830. O nome traduzido significa Great Auk Skerrie (Pinguinus impennis). uma ave marinha mítica na Islândia, que se acredita extinta e da família dos pinguins.

 

publicado por Ivo Gabriel - Iceland Views às 09:46
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Sábado, 10 de Março de 2012

Pequenos momentos com clientes na Islândia

 

Depois de alguma ausência do blog, estou já, a preparar alguns textos, vídeos e fotos para recomeçar as postagens.

 

Numa altura em que o verão se aproxima, juntamente com a época de alta turística, deixo um pequeno vídeo com algumas viagens que fiz como guia em 2010, aqui na terra do gelo e do fogo. São breves momentos acompanhando e dando a conhecer a Islândia, tanto a grupos grandes como individuais.

 

 

Entretanto a Ice Tourism sugere dois programas na Islândia que deixo nos links abaixo:

 

1. À Descoberta da Islândia 2012: O nosso programa de verão para grupos com saídas/datas em:

23 a 30 de Junho

7 a 14 de Julho

21 a 28 de Julho

4 a 11 de Agosto

 

Qualquer pessoa pode-se inscrever pelo preço de 1709 €.

Inclui guia em lingua portuguesa, Blue Lagoon, museus assinalados, seguros, autocarro, Alojamento em hotéis regime B&B.

 

http://www.icetourism.com/images/Programas/À%20Descoberta%20da%20Islândia%202012%20-%20Ice%20Tourism.pdf

 

2. Islândia em Apartamentos, Chalés, Guesthouses e Pousadas 2012: A forma mais barata de viajar na Islândia. Um produto direccionado para o viajante independente, que gosta de explorar a natureza. Se dispensa o hotel e é movido pela curiosidade, descoberta, conhecimento, interactividade, de conduzir por si próprio e sentir a realidade dos países, este é o pacote ideal! Preço desde 590 €.

Inclui carro (em sistema de Self & Drive), seguros, estadias em chalés, guesthouses e pousadas em lindíssimos locais, capa com brochuras, programa e mapa com o percurso, locais de interesse turístico e o alojamento devidamente assinalados, telemóvel, Transfer no dia da partida, museus assinalados e Blue Lagoon.

 

http://www.icetourism.com/images/programas/Islândia%20em%20Aps,%20chalés,%20guesthouses%20e%20pousadas%208-11%20dias%207-10%20noites%20self&drive%20verão%202012.pdf

 

publicado por Ivo Gabriel - Iceland Views às 15:16
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