Quinta-feira, 6 de Março de 2008

Os elfos e a mitologia nórdica / viking

 
 
montanhas de Borgarfjördur carregadas com lendas de elfos
 
A Islândia é o país onde a maioria das fontes escritas para a mitologia nórdica foi construída. Transmitida oralmente durante a era viking, o seu conhecimento actual baseia-se no Eddes e outros textos medievais escritos depois da cristianização, verificada durante o séc. XI. Esta mitologia é fonte de inspiração da literatura, teatro e cinema islandês.
Quando aqui cheguei, das primeiras coisas que me chamou a atenção, é o facto de o islandês ser muito físico e rude. Obviamente, isso é um reflexo de um passado duro, onde grande parte da população viveu da pesca (ainda hoje um dos motores da economia do país), em condições climatéricas adversas e muitas vezes, em locais completamente isolados. Assim, naturalmente a religião viking pouco tem de dogmático ou metafísico. Baseava-se em actos, gestos e culto aos ancestrais, não fazendo sentido existir sem a prática de um ritual.
Apesar do parlamento islandês ter votado a favor da cristianização, sempre tolerou a prática de cultos pagãos na privacidade dos lares. A atmosfera de maior tolerância, relativamente aos outros países nórdicos, é um dos motivos que explicará ter sido aqui que se construiu e desenvolveu toda a literatura sobre as sagas vikings, auxiliar indispensável para se compreender a era pagã. A mesma atmosfera de tolerância, existente na sociedade islandesa actual, ajuda também a compreender que as crenças e lendas estejam ainda muito latejantes.
 
Vista do fiorde Eyjafjördur - montanhas onde habitam elfos
 
O folclore islandês, é composto de lendas e crenças com Trolls, Ogres, Goblins, Elfos e Anões.
Mas hoje vou falar de Elfos.
Os Elfos (Elf / Elfs / Elves / Álfr / Álfar) são génios, espécie de fadas e ninfas em versão masculina e que na mitologia escandinava simbolizavam o ar, a terra, o fogo… sendo seres semidivinos, imortais, mágicos e luminosos conotados com a natureza e com a fertilidade. Vivem em colinas, sob a terra, em fontes, rochas ou outros lugares naturais, longe dos olhares dos comuns mortais (nós!).
Aparecem com frequência na literatura medieval europeia e se Shakespeare os imaginava como seres pequeninos, são quase sempre retratados como sábios, altos e belos. Na Islândia, tem o tamanho de pessoas normais.
Uma pergunta que frequentemente faço aos islandeses com que me vou relacionando, é se acreditam em Elfos e Trolls, ou se acham que são apenas figuras mitológicas exploradas pelos guias, brochuras e livros turísticos. Sabemos o quanto este tipo de folclore vende (veja-se o congresso de medicinas populares de Vilar de Perdizes), não faltando nas lojas de recordações da Islândia, artigos com estas personagens, de forma a saciar o interesse dos turistas. Afinal, vivemos na época da globalização e o marketing não perdoa!
Se relativamente a Trolls a maioria dos islandeses sorriem, deixando transparecer a sua descrença (pelo menos quando apelam ao racional), já relativamente a Elfos as coisas mudam de figura, notando-se diferentes reacções:
- Os que acreditam e ficam ofendidos se sorrimos, pois lêem nesse nosso sorriso uma censura achando-os insanos;
- Os que dizem que não acreditam mas que não se libertam da crença;
- Os que coçam a cabeça e dizem… Kumski (talvez);
- Os que dizem que acreditam mas não acreditam de facto;
- Os que não acreditam e acham que é folclore para estrangeiros / turistas consumirem e para contar às crianças, sempre ávidas de viver um mundo mágico.
Neste ultimo grupo está essencialmente a população mais nova. Pelo que me tenho apercebido, a maioria das pessoas com mais de 30 anos de idade, enquadra-se numa das primeiras 3 hipóteses.
Mas acreditem o tão difícil que é separar Mito e Realidade.
A estrada principal que liga Reykjavík a Selfoss, a determinada altura tem um desvio para a esquerda, aparentemente sem explicação perto de Hveragerdi. Este desvio aconteceu para se afastar de uma colina onde vive um elfo!
Ainda hoje, as ruas das cidades islandesas, estão alinhadas de forma a evitar as colinas habitadas por Elfos. É que experiências passadas demonstram que máquinas, martelos e outros artefactos, falham ou partem quando tentam construir nos locais habitados por estes seres semidivinos.
O túnel que liga Dalvík a Ólafsfjördur foi construído nos anos 90. A determinada altura, as máquinas foram afectadas por diversos problemas mecânicos, mesmo junto a uma rocha que os islandeses acreditam ser habitada por um Elfo. A solução encontrada foi circundar a rocha, que se mantém intacta no túnel, para alívio do Elfo e dos habitantes da região.
Se é verdade que os mais novos continuam a contar as lendas e crenças do folclore islandês como forma de perpetuar a tradição e transmitir a metaforizada visão da natureza, não é menos real que as raízes das velhas lendas pagãs vikings, estão mais próximas da superfície do que muitos islandeses gostam de admitir.
E existe quem jure ter visto Elfos! Não faz muitos anos que em plena televisão, num programa em directo, um dos intervenientes jurava ter feito amor com um.
 
Eu não acredito. Mas eles existem mesmo que não acreditemos.
 
E você, acredita em Elfos?
    
publicado por Ivo Gabriel - Iceland Views às 00:34
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De Fernando a 6 de Março de 2008 às 13:57
Com que então a divagar pela mitologia. É sem dúvida um tópico bastante interessante, especialmente aqui na Islândia. Ainda não me dediquei a pesquisar muito sobre isso, embora goste, mas tenho ouvido o que as gentes dizem. E cheguei á conclusão que, embora digam uma coisa ou outra, o resultado é sempre um: "Eu não acredito em elfos, mas que eles existem, existem!".
De Ivo Gabriel - Iceland Views a 6 de Março de 2008 às 21:44
Pois é Fernando,
Não é necessário fazermos uma pesquisa aprofundada para notar que os islandeses acreditam mesmo nos elfos, apesar do matreiro desdém que o interlocutor possa mostrar. Talvez seja esse desdém que faça alguns islandeses ter receio de o admitir. Mas a Mitologia é uma temática fascinante e nós estamos num país onde se mostra pungente.
Pena que as sagas vikings, tenham sido maioritariamente escritas, 200 anos depois da cristianização. Ou seja, pela mão de quem as interpreta através dos seus princípios cristãos.
Julgava eu que Odin era a divindade adorada por todos os vikings e isso não corresponde à verdade. Só no período mais guerreiro isso aconteceu e apenas pelos vikings guerreiros. Os vikings agricultores nem gostavam de Odin.
Bem... acho que as montanhas do fiorde estão a exercer algum tipo de influência sobre mim...
Só gostava de ter a longevidade elfica e quem sabe, um pouco dos seus poderes telepáticos.
Abraço!
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