Num mundo onde a globalização é crescente, mas também um processo com séculos de História (e estórias), este é o registo das impressões e sensações, de um emigrante, numa cultura distinta e distante.
Para quem andou este tempo todo a tentar fazer da Islândia a projeção do paraíso democrático ao jeito de "o povo é quem mais ordena", inspirado nos ideais românticos marxistas com um piscar de olhos revolucionário (logo o país onde o cartão de crédito impera!) desengane-se. A distância faz-nos acreditar na maior fonte de desinformação - a internet, impulsionados pela lavagem cerebral das centenas de manifestos de pressupostos românticos e irreais que por lá circulam. É que o jardim dos outros é sempre mais verde do que o nosso. Não existem similaridades entre Portugal e a Islândia (com apenas 300 mil habitantes e onde quase todos se conhecem) a não ser, contrariamente ao que se acredita em Portugal, que nenhum dos grandes responsáveis do colapso económico está preso. O veredito do julgamento do ex-primeiro ministro Geir Haarde ditou que apenas é culpado de uma das quatro acusações: A de que falhou no seu dever constitucional de comunicação adequada com os ministros, não tendo feito as reuniões de emergência quando o colapso financeiro era já óbvio. Mas apesar de ter sido considerado culpado de um dos crimes de negligencia, não vai sofrer qualquer penalidade. Já agora, sabem quem paga este julgamento fantoche e de contornos políticos, que deixa a esquerda e a direita a dizer que ganharam (na Islândia como em Portugal)? O povo é claro! Os custos legais do julgamento, ronda os 24 milhões de coroas (aproximadamente 143.730,00 €) e serão pagos pelo governo (leia-se contribuinte). Todos os responsáveis maiores continuam "por aí" em liberdade. Não procurem exemplo nos outros e sim dentro de portas!
N.B Poderia colocar aqui os argumentos de defesa do primeiro ministro, não isentos de lógica. Os bancos eram instituições privadas que burlaram. Se alguém deve ser, em primeiro condenado, serão os seus donos (administradores) que manipularam os números, enganando todos os que neles depositaram confiança. Mas a responsabilidade de uns (administradores) e outros (politicos) é um debate mais complexo.
N.B 2 Já vi mais manifestos a circular na internet com a seguinte inscrição: "Islândia perdoa dívida hipotecária à população" e "Islândia triplicará seu crescimento em 2012 após prisão de políticos e banqueiros" (!!!!????). Pode ser-se ideologicamente de esquerda, pode até fazer-se parte de acampamentos. Mas as frases de cima mais não são do que terrorismo e tirania trasvestida com as cores da esquerda!
N.B 3 Eu até já ouvi o Carlos Carvalhas na televisão a dizer que os banqueiros na Islândia tinham sido presos. Pena eu não estar nesse "Prós e Contras" para perguntar o nome dos donos dos bancos detidos. Não poderia obter uma resposta maior do que o silêncio. Preso (até à data) apenas um responsável menor. O que é bem menos que o Duarte Lima e o Oliveira e Costa.
Acima de tudo, exista bom senso (e já agora, sentido critico a filtrar informação dos manifestos que a internet oferece, por muito românticos e simpáticos que sejam e mesmo que indo de encontro ao nosso desejo de um mundo melhor)
Desde a viagem de regresso à terra do gelo e do fogo que pretendo postar sobre o colapso dos bancos do país, ocorrido em Outubro passado. Da intenção à publicação passaram mais de 2 meses, transformando este num post adiado.
Não tenho formação em economia e sendo assim, esta é a dissertação possível, redigida por um leigo. Mas todo o ser humano é imbuído de inteligência, sensibilidade e percepção e se juntarmos a isso, alguma atenção e capacidade de leitura, poderemos desenvolver um sentido crítico que permita uma abordagem pessoal (subjectiva) da temática.
Não acredito que as ciências sociais, mesmo recorrendo ao máximo rigor metodológico, consigam ultrapassar a barreira da subjectividade. É que as instituições que produzem ciência são constituídas por pessoas, que apesar de todo o esforço, estão condicionadas pelas suas vivências individuais. Os paradigmas, estão assim sujeitos a um prazo de validade, fruto da época e regulados pelas convicções de quem faz e produz ciência (e não só!).
A história tem-nos demonstrado que a mutação é uma constante, não sendo as verdades eternas ou absolutas.
Resta-nos acreditar que a Inteligência e a Cultura faz-nos seres humanos mais disponíveis e menos rígidos, prontos a dispensar a estilística retórico-dialético-demagógica, que normalmente é servida com vestes de presunção.
O colapso económico
O resto do mundo olhava com desconfiança para o milagre económico islandês e estes, do cimo da sua sobranceria, riam-se disso. Mas os meses de Setembro e Outubro de 2008 vieram demonstrar a fatalidade de um capitalismo desregrado, da especulação e do crédito fácil.
A crise terá começado com as sub-prime americanas (hipotecas de alto risco revendidas como produtos de investimento para o mundo). Quem investiu nesses produtos “tóxicos”, aliciado por juros mais altos, mas frutos da especulação de um sistema sem regras, acabou por perder tudo. Ao primeiro alarme de crise, a desconfiança dos bancos relativamente a outros cortou as linhas de crédito entre eles e depois foi a bola de neve começar a rolar…
O problema islandês explica-se facilmente. Os bancos cresceram desproporcionalmente à economia real do país. Com sucursais e clientes em diversos estados, o seu património chegava a ser quase 12 vezes o PIB (produto interno bruto) da ilha.
A Islândia é um país super consumista onde todas as pessoas (independentemente da idade) tinham e compravam a crédito.
Quando as linhas de crédito entre os bancos internacionais deixaram de funcionar e o sistema bancário do país começou a ter dificuldades de financiar as operações, foi o ruir da economia islandesa, já que o “pobre” estado era uma formiga à beira da dimensão e do volume de clientes e depósitos dos bancos do país.
Só que aqui entram alguns erros para ajudar na “festa”. Erros que a mim não me admiraram nada, dado que vem na sequencia de um post anterior (Considerações sobre a Islândia:http://iceland-views.blogs.sapo.pt/8696.html). Nesse post, editado antes do colapso económico do país, dava conta da sobranceria e arrogância islandesa, tão ao jeito de quem vive fechado na sua ilha, urrando como vikings com roupas do século XXI. O Islandês médio gosta de dizer que os europeus (leia-se União Europeia) são demasiado vagarosos. Para um islandês é difícil entender que é preciso saber parar e reflectir, com o intuito de rentabilizar e fazer bem.
Um país construído através da disponibilidade física, necessária para aquela que ainda é a principal actividade dos país, a pesca, a que se junta as exigentes condições climatéricas do passado sem o conforto das ultimas três décadas e o isolamento relativamente ao mundo que se reflecte num certo eremitismo social, condicionou o desenvolvimento de certas técnicas de subtileza e de polimento social. É através da Arte e Cultura que o islandês tenta ir buscar essa beleza e graciosidade que lhe falta. Uma amiga brasileira que visitou a Islândia no último verão, numa explicação de momento, sugeriu que as montanhas mais áridas necessitam de proteger as poucas flores que as embelezam. A Arte e a Cultura são as flores que embelezam o dia a dia das frias relações sociais na Islândia. Assim, essas manifestações tem sido de crucial importância, embora muitas vezes sejam mais devoradas do que contempladas. O Islandês na sua aura de "destemeridade" (e isso eles são!) age como estando sempre correcto! Existe algo de primário nesse comportamento, lembrando-me o finório português que pegando no automóvel, faz o IC1 Póvoa – Porto em 15 minutos, pé a fundo no acelerador. Chegado ao destino final, na inconsciência do perigo de tal forma de conduzir, vai berrar entusiasmado a sua saga, julgando ser o maior do bairro que para ele é a representação do mundo.
Mas verdade seja dita, para o islandês não existem perigos, ou não se tratasse de um sobrevivente da (sua curta) História.
Quando se pode olhar o mundo, entre garrafas de cervejas, num resort mediterrânico, há uma tendência para a arrogância – não compreendemos que, visto na distância de um resort (ou da Islândia), tudo se torna indistinto e acabamos por imaginar as coisas em vez de vê-las. Uma viagem às cidades e aos países reais, mesmo que nas férias, seria uma boa terapia para estes intrépidos vikings.
Mas o erro que ajudou à festa foi a desnecessária frente de batalha com os ingleses. Com aquele jeito de quem ergue a espada, o primeiro-ministro Geir H. Haard, resolveu dar o "calote" nos depositantes britânicos (e não só), anunciando na televisão, após a nacionalização dos bancos, que não pagaria um euro aos súbditos de sua majestade.
Sabemos que existem coisas que podemos pensar, mas nunca dizer. Um país na bancarrota necessitaria de uma diplomacia mais sagaz.
Ser polite nunca foi o forte dos vikings. Acontece que o primeiro-ministro britânico G. Brown não se atemorizou com este acto destemido (a guerra do bacalhau não se repetiu desta vez) e recorrendo à lei anti terrorista britânica, confiscou todo o património dos bancos islandeses na Inglaterra. Contudo, a acção britânica não ficaria por aí. A Islândia na bancarrota necessitava de dinheiro urgente, para que a ilha não se afundasse por completo. O gigante britânico facilmente jogou a sua diplomacia nas instituições internacionais (e sabemos que os britânicos não dão ponto sem nó). O resultado foi o FMI ter desbloqueado rapidamente um empréstimo no valor de 2,1 mil milhões de dólares, mas só depois de o governo islandês ter chegado a um acordo com a Inglaterra, a Holanda e a Alemanha e ter assumido restituir os depósitos de clientes estrangeiros nesses países, num máximo de 26 mil dólares por cliente. O valor total que o governo islandês terá de pagar a esses países ronda os 4.3 bilhões de dólares. Sabendo que a Islândia não possui esse dinheiro, a Inglaterra, Holanda e Alemanha irão emprestá-lo de forma a ser usado para pagar as restituições.
Assim, de um dos países mais ricos do mundo por habitante, a Islândia passou para um dos países mais endividados do mundo por habitante!
Embora descontextualizando, recordo a frase de Muhammad Yunus, Prémio Internacional Símón Bolivar em 1996 e fundador do Banco Grameen, que numa reflexão no seu livro “O Banqueiro dos Pobres” diz: “… É extremamente difícil ao devedor libertar-se do ónus do empréstimo. Habitualmente, é obrigado a pedir emprestado outra vez para reembolsar o empréstimo anterior, e, por fim, a única saída é a morte.”
O dia em que os islandeses começaram a lutar
Protestos em 8 de Novembro, em frente ao parlamento em Reykjavík
Quando à pouco mais de 1 ano cheguei à Islândia, uma significativa parte do trabalho da polícia era dedicado aos distúrbios e violência, originados pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas no país, bem como ao controle do tráfego rodoviário e dos respectivos limites de velocidade.
Os agentes da autoridade não usavam armas de fogo e embora o número de roubos e assaltos em Reykjavík estivessem a crescer, não tinham a expressão actual. Muitas das viaturas ainda passavam a noite com as portas destrancadas. Apesar disso, o crescente uso de estupefacientes e a pequena associação criminosa (esta residual e atribuída exclusivamente a emigrantes lituanos e polacos) era já uma realidade.
Os islandeses nunca foram de grandes manifestações. Se recordarmos, os protestos do Saving Iceland (ver post sobre o futuro da economia islandesa e a polémica do alumínio: http://iceland-views.blogs.sapo.pt/4127.html) contra a instalação da indústria transformadora das fábricas de alumínio, que vinha a afectar o equilíbrio ecológico da ilha, nunca conseguiu mobilizar mais do que um punhado de pessoas.
Quando pela força das consequências, os islandeses tomaram consciência que a sua economia era um mau filme de ficção, começaram a manifestar-se todos os sábados, frente ao parlamento em Reykjavík.
A data de 6 de Outubro de 2008, ficará na história como o dia em que as manifestações de protesto contra o governo e o presidente do banco da Islândia se tornarem inevitáveis. Foi o dia em que o primeiro-ministro fez o discurso do desastre, do crash da economia islandesa. A partir dessa data, todos os sábados, grupos de pessoas começaram a manifestar-se em frente ao parlamento em Reykjavík, num crescendo proporcional ao aumento do desemprego e ao desaparecimento das suas economias. A primeira manifestação contou com 500 pessoas e em 22 de Novembro, foram cerca de 7000 pessoas (o país tem pouco mais de 300 mil habitantes).
As manifestantes eram de todas as idades e os ajuntamentos englobavam desde pró americanos até à esquerda mais anti americana.
Os protestos tinham início às 16 h e tomates, ovos, molhos de hambúrguer e outras iguarias passaram a ser constantemente arremessadas contra o parlamento, chegando a partir as janelas (pode não parecer nada de relevante para quem está já familiarizado com protestos em outros países, mas acreditem que na Islândia isto era algo de novo!). Num acto de provocação, um dos jovens subiu para a varanda do parlamento e colocou no mastro uma bandeira com a inscrição Sold to the IHF for 2 Billion Dollars.
A polícia foi tendo o cuidado de não intervir activamente, consciente que as coisas poderiam facilmente sair do controle. Apesar disso, Um grupo de intervenção das forças policiais denominado the Viking Squad esteve sempre alerta, retirando das esquadras coletes, gás pimenta, e outros utensílios habituais nos grupos de choque. Todo esse material, por fim sacudiu o pó que durante anos foi acumulando dentro dos armários.
Entre os vários episódios ocorridos nestas manifestações, destaque para o acto audacioso de um jovem do Saving Iceland, que subiu ao telhado do parlamento e hasteou a bandeira da cadeia de supermercados Bónus. Esta cadeia de supermercados é parte do império de Jón Ásgeir Jóhannesson, o maior empresário na área da alimentação e que detém parte dos media. Ele é uma das personagens centrais do colapso, na medida em que era o maior accionista do Glitnir, o primeiro banco que foi nacionalizado.
No dia 1 de Dezembro de 2008 comemorou-se os 90 anos da Independência do estado islandês, apesar de apenas se ter tornado república em 1944. Milhares de pessoas concentraram-se junto à estátua de Ingólfur Arnarson, o primeiro colonizador da ilha. Depois dos discursos habituais, optaram por atribuir as maiores culpas da situação a David Oddsson, o presidente do banco da Islândia, definitivamente o homem mais odiado no país actualmente.
Um grupo de dezenas de manifestantes resolveu então ir manifestar-se para o banco da Islândia e quando lá chegou deu de caras com 3 policias a guardar a porta de entrada. Como habitualmente começaram a atirar tomates e ovos, colorindo a entrada do Banco e os desgraçados agentes da autoridade.
Surpreendentemente, os agentes policiais abandonaram o seu posto, sob os aplausos da pequena multidão. Só quando os manifestantes subiram ao segundo andar se aperceberam que tinham aplaudido cedo demais. Por detrás da grossa porta de vidro, 30 polícias equipados, serviam de barreira, impedindo a passagem do ruidoso grupo. Nessa altura, é comunicado aos manifestantes que a manifestação tinha sido declarada de ilegal e que iriam usar gás pimenta para dispersar o ajuntamento, caso eles não o fizessem de livre iniciativa. Os sprays de gás foram utilizados, acabando muitos dos manifestantes no exterior agarrado aos olhos macerados.
Uma das tiradas mais interessantes de um manifestante foi: They won`t look into your eyes!. Podemos viver em guerra, mas nunca deixar de abraçar o humor!
Na passagem do ano um grupo de aproximadamente 500 manifestantes revoltados conseguiu silenciar um programa de televisão em directo no hotel Borg, com a presença do primeiro-ministro, queimando os cabos da emissora.
A intervenção policial, recorreu ao gás pimenta, enquanto os manifestantes respondiam com balões de água e foguetes (na passagem do ano é tradição todas as famílias comprarem foguetes e bombardear os céus entre as 21 h e as tantas da madrugada).
É engraçado ver no vídeo em anexo, os cozinheiros e restante staff do hotel a impedirem os manifestantes de entrar. É preciso contextualizar que este é um país de 300 mil habitantes, onde todas as pessoas, quando não se conhecem, têm pelo menos algum conhecido em comum. Ou seja, dos dois lados da barricada estão pessoas que no dia seguinte estarão a tomar uma cerveja juntos!
O que vale é que os Vikings batem-se num dia, e no outro confraternizam! Like in the past!
Protestos no hotel Borg em 1 de Janeiro de 2009
A queda do Governo e a crueza dos números de desempregados
Ao fim de tantos protestos o governo caiu (o governo de coligação de centro-direita englobava o partido da Independência e os sociais democratas). O primeiro-ministro Geir Haarde, anunciou ontem o que à muito era esperado. Já uns dias antes, tinham sido marcadas eleições antecipadas para 9 de Maio (as eleições numa situação normal seriam apenas em 2011).
O Presidente do país convidou, entretanto, os sociais-democratas, em rota de colisão com o partido de Geir Haarde na coligação do governo, a coligar-se com a esquerda, nomeadamente com os Verdes. É possível que as eleições possam vir a ser antecipadas novamente, afinal a Islândia é um país à deriva.
Neste momento, o único a assumir politicamente culpas da situação foi o Ministro do Comércio que no seu último acto demitiu o presidente do Fjárlmalaeftirlit, a Autoridade de Supervisão Financeira, responsável pela supervisão da expansão dos bancos (em Portugal está sobre a tutela do Banco de Portugal).
Entretanto, o desemprego tem vindo a aumentar rapidamente. Num espaço de um ano passou-se dos residuais 0,5% para mais de 6%. Em 27 de Janeiro de 2009, no Instituto de Emprego estavam inscritos mais de 12.800 pessoas. Grande parte em Reykjavík e perto de 800 em Akueryri). Se estes números não são maiores é porque o sector da construção civil que praticamente parou, era constituído por mão-de-obra estrangeira. Após o mês de Outubro, por falta de trabalho, retornaram aos seus países de origem.
Ainda de referir, que o aumento do desemprego e a desvalorização brutal da krona islandesa (Se trocar para euros, neste momento o meu salário é praticamente metade do que ganhava à um ano), faz com que alguns islandeses comecem a emigrar.
Somando estas duas variáveis, compreende-se o motivo de o numero de desempregados não ter ainda atingido os dois dígitos.
De referir também, que a empresa Creditinfo, publicou num recente artigo que cerca de 3500 empresas estão em risco de falência no ano de 2009, representando cerca de 11,5% das empresas registadas no país (num universo de aproximadamente 30.000 empresas registadas). Além disso, muitas das empresas sobreviventes irão ter de reduzir custos e inevitavelmente, despedir trabalhadores.
O papel do Estado
Uma das coisas mais admiráveis na Islândia é a protecção social e do trabalhador. Além do respeito (e grande receio) que existe por parte das empresas relativamente ao eficaz sindicato dos trabalhadores, o estado desempenha um papel importante nesta matéria.
Aquela maquinazinha, normalmente colocada numa parede, que em Portugal é conotada, muitas vezes, como controlador do trabalhador, na Islândia parece servir mais, para defender o mesmo trabalhador. É prática comum aqui receber-se à hora. Cada minuto fora do horário normal de trabalho (9 h – 17 h) é pago como hora extra. No fim de semana, o valor percentual da renumeração aumenta, recebendo-se ao Domingo, 35% acima do vencimento normal, em cada hora de trabalho.
As empresas respeitam isto, até porque a fiscalização e o sindicato dos trabalhadores, à mínima queixa de um funcionário, aparecem na empresa. O Estado, a fazer as contas, das pessoas que emprega, é também de uma correcção exemplar. Oxalá o despoletar da crise não altere o que eu considero exemplar no país.
Como referi acima, ao primeiro pé colocado fora da ilha, o que eu recebo hoje em dia na estância de esqui em Hlidarfjall, desvalorizou para metade. Mas não foi só a desvalorização da moeda que afecta os números do meu ordenado, no fim de cada mês. É que o Estado está a cumprir o seu papel, mesmo que em meu prejuízo. Vou passar a explicar:
Com o aumento do desemprego, a politica que tem vindo a ser adoptada pela Câmara Municipal de Akureyri (a estância de esqui é pertença da edilidade), é a de redução das horas de trabalho dos seus funcionários, de forma a empregar o número máximo de pessoas. Ou seja, o sacrifício de alguns, que com essa medida sofrem uma redução do ordenado ao fim do mês, em prol de mais pessoas terem as suas necessidades básicas (alimentação, possibilidade de pagar a casa, etc…) asseguradas. Desta forma, pretende-se que a população tenha um dia a dia normal, tendo em conta as condicionantes de um colapso económico.
Esta tem sido a politica do falido estado islandês, que mesmo de saúde tão periclitante, recorrendo a uma redução de ordenados e das horas de trabalho de alguns, não só tenta não despedir funcionários, como procura empregar o maior número de pessoas. Assim, cumpre o seu papel de protecção social e é estandarte de esperança, daqueles que sem culpa alguma, foram apanhados pela crise económica, despoletada por alguns, e da qual o próprio estado não pode deixar de assumir responsabilidades.
Sei que sou prejudicado, mas sei também que numa altura de dificuldades seria duplamente egoísta e imoral, a individualidade sobrepor-se ao colectivo.
O Mito
À alguns dias atrás, no telejornal em Portugal, passou uma reportagem, em que se falava do aumento das provocações e agressões a estrangeiros na Islândia. Não vou abordar neste post a temática do racismo. Em situações de instabilidade social e aumento do desemprego, inevitavelmente os emigrantes são o elo mais fraco. Aqui e em qualquer parte.
A verdade é que pouco antes do colapso uma equipa da TV Record brasileira veio à Islândia fazer uma reportagem. No final, o que foi para o ar foi um paraíso irreal que só existe na cabeça de quem desconhece a realidade. A ausência do vivencial, leva as pessoas a imaginar maravilhas que só existem quando olhamos o outro por uma janela. Descer à rua mostra-nos sempre outra realidade.
Creio que existe um mito sobre os países nórdicos. No caso islandês, este é um país nórdico atípico. Mas quem leu alguns posts anteriores já conhece algumas das minhas opiniões.
A baixa densidade populacional, é para mim uma das variáveis que permitiu aos países nórdicos apresentar uma boa qualidade de vida, nomeadamente na variável económica.
Thomas Robert Malthus, escreveu no século XIX, dois ensaios sobre o princípio da População, defendendo que o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade, já que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Queria isto dizer que a produção de alimentos não acompanharia as necessidades que o crescimento geométrico da população iria sentir.
A Islândia tem um território 10% superior a Portugal e apenas 300 mil habitantes. Imagine-se 11 milhões de habitantes na ilha e as inevitáveis consequências sociais, económicas, bem como a interferência castradora do meio ambiente.
Todos os países nórdicos tem uma reduzida densidade populacional. Contudo, as taxas de suicídio são das maiores no mundo.
Somos seres eminentemente sociais e quando se fala de economia na televisão, parece que por vezes, todos estão esquecidos que estão a falar numa ciência social.
Chegado o inverno, a ilha vestiu-se de noiva, deslumbrando-nos a cada instante com o charme da solitude épica. Os tons púrpuras do céu, revelam-nos as infinitas possibilidades dos dégradés do extenso manto branco.
Esta é uma das paisagens que me acaricia quase diariamente.
Com os seus 60 km de extensão, o Eijafjördur (fiorde Eyja) é dos maiores e mais belos da Islândia. Akureyri, Grenivík, Dalvík ou a ilha de Hrisey, são alguns dos núcleos populacionais ao longo do fiorde a merecer uma visita.
Charming and fair is the land,
and snow-white the peaks of the glaciers,
Cloudless and blue purple is the sky,
the fjord is shimmering bright...
adaptação livre de um excerto do poema Iceland de Jónas Hallgrímsson
Foram 2 meses em Portugal e uma visita à Andaluzia espanhola. No Porto e em Sevilha respira-se a história da humanidade, em cada edifício, em cada monumento, por trás de cada janela. São segredos que nos revelam serpentes transvestidas de moiras. São os sonhos de um passado a guiar o nosso futuro. Na plaza del Salvador, as estátuas de Dali combinavam imagens bizarras, oníricas, com a excelente qualidade plástica que lhe é (foi) reconhecida.
No mesmo dia, passei de 25 º C para as temperaturas negativas de Akureyri. O regresso foi dia 24 de Outubro.
Na Islândia, a natureza exprime-se sempre com uma amplitude de movimentos surpreendente.
1. A felicidade, as mentalidades, o tédio, o racismo e o orgulhosamente sós.
Interrogações acerca da realidade dos dados estatísticos.
Os islandeses são racistas na mesma proporção em que são uma sociedade fechada. Aos séculos de isolamento, com contactos quase inexistentes com o mundo exterior, junta-se a vontade de não querer mudar.
O desenvolvimento da Islândia e a prosperidade económica acontece depois da segunda guerra mundial. Se hoje existe praticamente tudo, a verdade é que até à poucas décadas atrás tal não acontecia. Por exemplo, frutas e vegetais entraram muito recentemente nos hábitos alimentares dos islandeses (alguns continuam a praticamente não os comprar).
A Europa demorou séculos a passar da idade média para a idade moderna. Séculos de contactos com outros povos e civilizações, tendo como resultado a transformação das mentalidades. Em particular, a história de Portugal é feita de contactos com outros continentes e as suas culturas. É certo que em muitos casos, esses contactos estão longe de ser pacíficos, não podendo falar-se de muitos acontecimentos passados com orgulho. Mas contextualizem-se no tempo e na época. Não podemos orgulhar-nos de todos os acontecimentos da nossa história, da mesma forma que individualmente ninguém pode dizer ter agido sempre correctamente. Mas o objectivo do post não é dissecar a história de Portugal e da civilização ocidental.
A questão é que os séculos que na Europa permitiram passar-se da Idade média para a idade moderna (contactando com outros povos e culturas, desenvolvendo Universidades, com revoluções – liberais, industriais, etc…), não aconteceram na Islândia.
A Islândia passou muito rapidamente de uma idade média para a idade moderna. Diria que em menos de 100 anos. Se tal é possível na vertente tecnológica, as transformações culturais e comportamentais necessitam de mais tempo. Necessitam de mais gerações.
A Islândia, foi durante todos estes séculos um país isolado e consequentemente fechado em si próprio. Isso ainda hoje se reflecte.
As grandes convulsões sociais na Europa, bem como os acontecimentos na América do sul e central, África e Ásia não faziam parte da realidade islandesa. O desconhecimento era imenso.
Os islandeses viveram sempre virados para dentro e ainda hoje o seu umbigo é o centro do mundo.
Sendo assim, vivem os seus pequenos problemas, apesar do tédio com que os vivem! Justificam a quantidade de bebidas alcoólicas ingeridas durante o fim-de-semana com o argumento de nada mais haver para fazer. Na verdade, nunca entendi muito bem esta forma de pensar, já que apesar de não terem muitas atracções internacionais a visitá-los, tem um agitado mercado artistico-cultural interno. As escolas de arte e música são muitas e todos os seus grupos de música e dança, bem como os artistas plásticos, apresentam-se com regularidade. Além disso, tem cinemas, cafés, museus e um país único para se viajar. Durante 6 meses a neve é exclusiva dos glaciares e dos picos das montanhas. Tempo suficiente para que se possa admirar os fenómenos naturais, mesmo que em locais servidos por estradas pouco acessíveis (tirando a numero 1 que circunda a ilha, são praticamente todas as outras!).
Porquê esta sensação de tédio dos islandeses? Porquê a sensação que não existe nada para fazer?
Em primeiro, acho que tem a ver com a dificuldade de relacionamento social existente. A balada ou noitada existe para beber depressa de forma a ficar rapidamente bêbado. Isso é um prejuízo para a socialização, Ficando mais difícil conversar e consequentemente fazer amizades.
Além disso, este povo não prima pela delicadeza e graciosidade. Ou seja, com os copos e no meio da sua rudeza e aspereza somos embalados por encontrões em forma de ondas contínuas!
Sintomático é o facto de no dia a dia não usarem expressões, no inicio ou final de uma frase, como Excuse-me, sorry ou please. A dificuldade que existe em pedir permissão é igual à dificuldade que existe em exteriorizarem afectividade, num relacionamento social. O islandês não é polido e sendo assim não pede. Faz!
Em conversa com uma colega de trabalho (uma menina islandesa de 19 anos) na área de ski de Hlidarfjall, ela dizia-me:
- Nós não gostamos de pessoas “polite”.
Logo respondi-lhe:
- I`m fucked!
A mesma menina, depois de acabar a temporada de esqui, foi passar férias na Dinamarca (para muitos islandeses o resto do mundo chama-se Dinamarca, de quem se auto-proclamaram independentes em 1944, quando esta estava ocupada pelas tropas germânicas) e vim a saber que passou 2 noites na prisão. É que às 3 h da manhã resolveu ir correr consoante veio ao mundo (peladinha) pelas ruas de Copenhaga! Acreditem que na Islândia, não é tão anormal, que nos bares alguém se lembre de baixar a calça e mostrar os órgãos genitais. Eu próprio já assisti a isso mais do que uma vez. Mas na Dinamarca parece que as pessoas são um pouquinho mais “polite” e o jardim dos outros não é o nosso jardim (acreditem que nem pensei na Madeira!).
Claro que um islandês perdido de bêbado ou fica prepotente ou senão disponível para falar contigo. Mas desengane-se quem julgar que podemos estar no início de uma amizade. Se o encontrar sóbrio no dia seguinte, é como se nunca tivesse falado connosco. Se nos dirigimos até ele, a fim de educadamente o cumprimentar, não só ele irá estranhar, como relutantemente o fará e sem recurso a um afável sorriso.
Já agora, se um islandês vier falar connosco utilizando o Inglês é porque certamente estará já com os copos.
Ao fim de semana, as noites na Islândia podem ser caóticas. Muitos deles bebem para lutarem entre si. Reminiscências das festas vikings, forma de afogarem o tédio, debaixo dos olhares de complacência das autoridades. Se criarem distúrbios num bar, passados uns minutos poderão entrar novamente.
Imaginam como é quando eles viajam de férias para a Dinamarca e para o sul de Espanha com este comportamento?
Sim, porque os mais novos ficam admirados quando se lhes é dito que nos outros países não é tolerado o mesmo tipo de comportamento.
A resposta é:
- Julguei que fosse assim em todo o lado!
Mas, sem dúvida, existe um complexo de insularidade, que degenera em prepotência, autismo e em ultima instância se manifesta sob a forma de racismo.
O Islandês não quer entrar na união europeia porque acha que tem um nível superior e que não necessita da Europa para nada. Justificam com os séculos de isolamento, debaixo das condições climatéricas mais adversas, como atestado para a sua eterna auto-suficiência.
Ou seja, no orgulhosamente sós a disponibilidade para o Outro é menor.
Sendo ainda uma Sociedade fechada, não é fácil para um estrangeiro viver aqui. Muitos queixam-se de não conseguirem fazer amizades. Penso que isso torna a estadia mais penosa do que a ausência da luz solar no Inverno.
E existe o racismo. A primeira pergunta que te fazem é: - "Talarðu íslenskú?" (falas Islandês?). Perante a nega começa a seriação. Será que eles têm consciência que ninguém no mundo fala islandês!?! Que é uma língua apenas falada pelas 300 mil pessoas que vivem na ilha? Que só podemos aprender islandês na Islândia e que sendo uma das mais difíceis línguas necessita de tempo (diria muito tempo!)?
Como eles vivem no seu próprio umbigo, aos estrangeiros normalmente resta o trabalho indiferenciado, onde existem vagas não preenchidas por islandeses. Isso origina que muitos estrangeiros formados (e em áreas especificas) não arranjem trabalho condigno com as suas habilitações. Existe sempre um islandês que apesar de menos habilitado (por vezes sem habilitação ainda), tem a preferência. Um super proteccionismo ainda digno de uma mentalidade medieval paira no subconsciente dos islandeses e algumas gerações mais serão precisas, para que a mudança total se opere. Compare-se isto com o cosmopolitismo londrino a 2 escassas horas de avião.
Pode também fazer-se o contraponto com a Finlândia, onde os estrangeiros são bem vindos sem necessitarem de falar a língua nativa e onde são vistos como motor do desenvolvimento económico, nomeadamente aqueles que com habilitações são conduzidos para cargos especializados.
Na Islândia o desenvolvimento económico e tecnológico não foi acompanhado pelas mudanças de mentalidade. Sendo assim, o Outro (leia-se estrangeiro) é muitas vezes visto como uma ameaça à sua cultura em vez de ser visto como alguém que poderá transmitir posteriormente a cultura islandesa ao resto do mundo. Não será isto um complexo de inferioridade? A cultura islandesa é forte (a maioria das sagas vikings foram escritas aqui), está enraizada e não corre qualquer risco. Quando irão os islandeses entender que a abertura só será um ganho para a transmissão da sua História e Cultura?
Fecharem-se sobre si, pode ter sido útil no passado, mas creio que no futuro e num mundo cada vez mais global não trará nada de bom, nomeadamente para a economia islandesa, actualmente em crise.
Muitas questões gostaria de abordar, mas deixarei para outra altura. Nomeadamente aquela que diz (ou dizia) ser a Islândia o país mais feliz do mundo. Isso coloca-me muitas interrogações. Primeiro teríamos de definir o conceito de felicidade. Depois saber qual a diferença entre alegria e felicidade. Por ultimo, saber que estudos são esses e que variáveis utiliza. De certeza que quem publica um estudo desses não faz trabalho de terreno integrado na Sociedade e que as variáveis predominantes serão as quantitativas em detrimento das qualitativas. Mas as variáveis quantitativas são manobráveis e podem estar sujeitas a uma boa operação de marketing.
Desafio um cientista social a vir fazer um Estudo Qualitativo sobre Felicidade à Islândia. Acho que esse trabalho está a ser necessário, recorrendo ao trabalho de campo (trabalho de terreno / observação participante) mínimo de 3 anos.
Para que fique bem vincada a minha opinião. É ridículo dizer e vender-se essa ideia. Os Islandeses não só não são o povo mais feliz do mundo, como estão longe disso (isto se for possível numerar-se a felicidade de um Povo ou Sociedade).
Pelos motivos expostos em cima e por muitos outros.
2. Para lá das estatísticas existe a realidade
Li algures que a Reykjavík (com menos de 200 mil habitantes) tinha tantos jornais diários como o Rio de Janeiro (com mais de 4 milhões de habitantes). Isso era usado para enfatizar os índices de leitura na Islândia (o povo com mais hábitos de leitura dizia o artigo).
Será que o Rio de Janeiro tem a mesma percentagem de jornais gratuitos como na Islândia?
Vamos falar de elites ou vamos falar de cidadãos médios? Quanto mais tempo vivo aqui, mais questiono as “certezas” que nos fornecem os dados quantitativos. Não vejo o cidadão médio islandês ter um nível de interesses e consequentemente cultural diferente do cidadão médio português. Acho que as variáveis económicas sobrevalorizam a realidade da Islândia.
Depois, o desconhecimento que existe no exterior sobre o país ajuda à fantasia. Já agora, os níveis de escolaridade têm subido em Portugal. Isso é proporcional ao aumento de conhecimento real dos alunos?
Havendo interesse institucional é fácil aplicar politicas que em poucos anos inflacionem os níveis estatísticos. Se a economia de um país for pungante mais fácil será trabalhar as variáveis estatísticas.
Portugal tem mais de 10 milhões de habitantes. A Islândia pouco mais de 300 mil. A diferença de área entre os dois países é pouco superior a 15%. Como seria a economia islandesa com 10 milhões de habitantes, tendo em conta todos os problemas que isso implicaria, começando pela poluição...?
Desde que à muito anos atrás, as traineiras e barcos estrangeiros atracaram na Islândia, começaram a nascer muitas crianças com olhos e cabelos escuros.
Como resultado, um dos fiordes da costa Este, foi eufemisticamente denominado de Congo.
Isto, por si só, sugere que a atitude dos Islandeses perante o sexo, foi sempre razoavelmente liberal.
O sexo começa por ser visto como uma actividade divertida a que nos devemos entregar, embora muitas vezes fosse feito de luz apagada. Pois bem, as coisas não mudaram.
Esta actividade liberal, significa que os islandeses nunca se preocuparam em desenvolver uma série de esquemas e preliminares, habitualmente identificados como cortejamento e sedução, de forma a conseguirem determinados intentos (leia-se sexo!).
Um directo e desembaraçado “sim” ou “não” é tudo o que lhes ocorre antes da acção começar. Enquanto que no resto da Europa um convite “vamos tomar café?” é visto como um passo que pode conduzir o casal ocasional à cama (ou talvez não), na Islândia o café é servido posteriormente em jeito de retribuição (ou talvez não).
Sendo assim, não se admirem se um islandês ou islandesa, sem qualquer conversa que introduza uma primeira intimidade, for directo ao assunto. De igual forma, não esperem que depois da acção, façam muito mais do que levantar, vestir e ir embora.
Mas nada melhor para ilustrar a atitude dos islandeses perante a sexualidade do que o Phallological Museum em Husavík, que contem mais de 150 pénis de mamíferos, terrestres e marítimos. Entre eles, contam-se mais de 38 exemplares de 15 espécies de baleias, 1 exemplar de um urso polar, 19 exemplares de 7 espécies de focas e morsas e 93 exemplares de 19 mamíferos terrestres, num total de 151 exemplares de 43 mamíferos que se podem encontrar na Islândia (estes números estão sujeitos a actualização constante).
Consta que existe um documento de doação (certificado notarialmente) de um exemplar de homo sapiens. Islandês claro!
Com o intuito de aumentar o número de visitas a este meu blog, deixo em baixo um vídeo, onde pode ser apreciado o interior do museu e o seu espólio.
Isto, se aguentarem os 4 falológicos minutos.
A Falologia é uma ciência antiga que apenas tem recebido alguma atenção em disciplinas académicas como a história, arte, psicologia, literatura e outros campos artísticos como a música e o ballett.
A noitada em Reykjavík. No mês de Julho tem quase 21 h de luz solar diária
Já tinha passado por ela.
O Oliver é considerado um dos bares melhor frequentados de Reykjavík. Mas ser melhor frequentado na Islândia, é sinónimo de ter grupos de mulheres obesas, a manearem os quadris tão subtilmente como os sacos de pancada, a cada “punch” de um boxeur. Mas o maneio de quadris, não espelha todos as qualidades destes grupos de mulheres. O que mais as caracteriza, são os incansáveis gritos estridentes. Sim, porque na voz elas são tão "finas" como as gralhas não ficariam depois de 4 shots, 3 cervejas e 2 mojitos!
A meio da noite, já somos empurrados de encontro a todos os sentidos do bar (se é que a partir de determinada hora, alguma coisa tem sentido na noite islandesa). São tantos os encontrões que levamos, que se não consegue beber sem adornar, em cada segundo, o chão de cerveja ou qualquer outro liquido que tenhamos entre mãos. Como esquecer que estamos em terras vikings? Ouvem-se copos a estilhaçar algures. Este sim, é um povo viril! Cedo nos deparamos com a cultura do “drink fast to be drunk quickly!”. Se querem ver mulheres a caminhar como madeireiros, podem sempre visitar a Islândia. Se gostarem delas com bafo de “truckdrivers”, então, bem vindos ao paraíso!
Foi num intervalo de encontrões (ou talvez não), que os nossos olhos se cruzaram. Ela fixou os olhos em mim. Confesso que eu estava mais preocupado em tentar manter a cerveja na mão.
Caminhei para o fundo do bar, tentando encontrar-me naquele kaos. Por fim, fiquei num local semi-abrigado do oceano de encontrões. Era um local com vista para a pista, onde as islandesas saltavam histéricas. Nessa altura, pensei na mulher latino-americana e em como é belo ver o seu caminhar jingado, bem como o seu requebrado harmónico e feminino, acentuando as formas de mulher.
Todo o glamour que eu conseguia ver ali, era a ausência de charme e das tonalidades subtis da sedução. Irei contar-vos neste blog muitas situações com mulheres islandesas. Mulheres de olhos azuis, transparentes e belos como nunca vi. Mas é difícil fazer muitos mais elogios para além do rosto. Na cabeça, relembro os filmes que vi retratando a América profunda e as suas pequenas cidades perdidas. Mulheres com camadas de base e pintura. Mulheres fast-food de pizza na boca.
Estava embrenhado nos meus pensamentos, quando ela chegou de novo perto de mim, fixando o seu olhar. Nessa altura, não havia duvidas que ela estava, de facto, a “cortejar-me” (perdoem-me a expressão tão pouco fidedigna. Sim, porque elas cortejam homens como quem dá um trago numa cerveja!). A sua expressão decidida preparava-me para uma conversa simpática, afinal era novo aqui. Foi nessa altura, como que em uníssono com os gritos de histeria na pista que ela estende o braço, empunhando o seu punho contra o meu braço, mesmo junto ao ombro. Ainda não refeito da surpresa de tão delicada forma de “engate” cerro os dentes, para não fraquejar perante tão singelo cumprimento. Cumprimento esse, tão delicado como o embate de um camião de combustível num utilitário citadino (ou deveria dizer num Mercedes CLK 200?). Olho na direcção do meu amigo, que surpreso também olhava para mim. Nesse momento, desatamo-nos a rir. Tínhamos sido cúmplices na observação e participação de um ritual de cortejamento e acasalamento em terras islandesas!
Durante o tempo em que a nossa amizade durou e em que repartimos momentos da noite de Reikjavík, acabávamos por relembrar inumeras vezes este episódio, batendo, embora de forma mais leve, no braço um do outro.