Num mundo onde a globalização é crescente, mas também um processo com séculos de História (e estórias), este é o registo das impressões e sensações, de um emigrante, numa cultura distinta e distante.
É no dia 17 de Junho de cada ano que a Islândia comemora o seu Dia Nacional. Esta foi a data escolhida, por ser o aniversário de Jon Sigurdsson, proeminente líder do movimento de independência no séc. XIX.
Foi em 1944, numa altura que a Dinamarca estava ocupada pelas tropas alemãs, que a Islândia fez a sua proclamação da independência. O primeiro presidente da jovem republica foi Bjornsson Sveinn.
Como é normal em nações ainda recentes, a Islândia tem um grande orgulho nacional e o 17 de Junho tem a participação da quase totalidade da população. Durante todo o dia não faltam discursos, paradas musicais, atividades para as crianças, manifestações artísticas e recitais diversos. Muitos adultos e crianças aproveitam para vestir os seus trajes tradicionais.
Resolvi fazer uma pequena montagem vídeo com algumas fotos que tirei em Akureyri, durante o Dia Nacional da Islândia 2012. Espero que gostem!
A principal estrada islandesa - ring road, que circunda a ilha, entra no nordeste islandês através das terras altas do Breiðdalsheiði, descendo posteriormente para skriðdalur, nas bordas do distrito de Flótsdalur. Estas terras mais baixas são verdes, floridas e abundantes em madeira. Egilsstaðir é a principal cidade da região, tendo sido fundada e crescido nas últimas décadas. A quem aqui chegar, aconselho a sair da estrada n. 1, de forma a circundar o extenso lago de Lagarfljót, através do vale de Flótsdalur. Poderá assim, apreciar o sucesso da planificada reflorestação da Islândia, usufruindo da floresta de Hallormstaður, a maior e mais bonita do país. Dirija-se ao outro lado do rio, até Valþjófsstaður e Skriðuklaustur e mais tarde visite a cascata de Hengifoss, antes de retornar à estrada N. 1.
O rio de Lagarfljót espraia-se nesta região, tendo formado o 3º maior lago da ilha. A mancha de água ocupa cerca de 52 km² de área, que se distribui por 35 km de extensão, variando por 1 a 2,5 km de largura. Apesar desta pouca largura, que faz o lago ser comprido, a sua profundidade atinge os 112 m. A superfície do lago encontra-se 22 m acima do nível do mar (o fundo do lago encontra-se a uma cota de 90 m abaixo do nível do mar). O lago, por vezes, apresenta uma coloração acastanhada devido aos sedimentos trazidos pelo rio, provenientes do grande glaciar de Vatnajökull. Como tem alguns locais com nascentes quentes que injetam agua das profundezas da terra, raramente congela durante o inverno. As suas águas opacas, juntamente com a profundidade e as nascentes de agua quente borbulhante, contribuíram para envolver o lago num manto de mistério que aguçou a imaginação humana, originando alguns contos e crenças, que dos tempos imemoriais permanecem até aos dias atuais.
A Floresta
Floresta de Hallormstaður
Ao longo do Lagarfljót o sucesso do recente plano de reflorestação, criou uma floresta com cerca de 800 hectares. Apesar da região ter sido declarada Área de Conservação Natural em 1905, as árvores originais de Hallormstaður foram desaparecendo nos anos seguintes. Não demorou muito para que pudesse ser invertida esta tendência e as experiências com espécies importadas, juntamente com as bétulas, foram realizadas ao longo das margens do lago. Atualmente, convivem com as arvores nativas, mais de 50 espécies importadas, que prosperam nas difíceis condições climatéricas islandesas. Nos últimos anos, tem crescido uma comunidade em Hallormstaður, existindo 2 escolas e vários fogos. Durante o verão as escolas são convertidas em hotéis que oferecem o conforto necessário para os visitantes. Para quem pretende visitar a floresta e o lago, chamo a atenção para a pitoresca baía de Atlavík.
A serpente e o lago
O lago de Lagarfljót e uma representação animada da serpente
Segundo os contos e as crenças populares, um monstro vive nas profundezas do lago. Diz-se que a serpente do Lagarfljót foi vista por uma grande quantidade de pessoas ao longo dos séculos. Existem muitas histórias acerca deste monstro bastante temido. Partes do seu corpo acima da tona da água são avistados periodicamente, alimentado mais a crença de todos e sendo visto como um presságio do diabo. Contudo, não consta que a serpente tenha alguma vez provocado algo realmente terrifico. Nos dias atuais, os mais racionais dizem que o monstro não existe e que a crença deve-se às correntes e ao borbulhar, originado pelas nascentes no leito e na berma do lago. Mas existe quem continue a acreditar na lenda e jure ter já visto o monstro. Sendo ou não verdade, o lago é suficientemente extenso e fundo, para continuar a alimentar a crença popular.
A lenda
Vídeo amador com o que se julga ser uma filmagem da serpente nas águas do lago de Lagarfljót
Umas das lendas da serpente do lago diz-nos:
Era uma vez, à muito tempo atrás, uma mulher que vivia na quinta de Hérad perto do Lagarfljót. Ela tinha uma filha, já crescida, a quem ofereceu uma sineta em ouro. A filha perguntou-lhe como poderia retirar benefícios do ouro e a mãe disse-lhe para colocar a sineta debaixo de uma urze em forma de serpente. A filha recolheu na floresta, uma urze comprida, em forma de serpente. Depois, colocou-a num cesto comprido, com a sineta debaixo. A urze permaneceu lá durante vários dias e quando a menina foi ver, o ramo em forma de serpente, tinha crescido tanto que já nem cabia no cesto. Assustada a menina pegou no cesto, com o ramo de urze em forma de serpente e jogou-o no rio. Algum tempo depois começou a ser avistada uma serpente no lago que começou a matar os homens e as bestas que dela se aproximavam. Algumas vezes, subia até aos bancos do rio e cuspia um perigoso veneno. As pessoas estavam preocupadas e atemorizadas, mas não sabiam como lidar com o monstro. Decidiu-se contratar 2 especialistas para matar a serpente e recuperar a sineta de ouro. Os dois especialistas mergulharam nas aguas do lago, mas pouco tempo depois, regressaram à superfície. Disseram que apesar de terem esperança, a serpente estava intratável, sendo impossivel matá-la e trazer o ouro. Disseram também que uma outra serpente, mais feroz, estava presa em baixo da sineta de ouro no fundo do lago. Depois de dizerem isto, voltaram a mergulhar, vezes sem conta, até que conseguiram acorrentar a serpente em 2 sítios: Próximo da barbatana e na cauda. Desde essa altura a serpente nunca mais conseguiu matar nem o homem nem a besta. Mas às vezes, parte do seu corpo consegue vir parcialmente até à tona do lago. Quando tal acontece, é sinal de mau presságio.
A água é uma constante na paisagem islandesa. A sua pureza é alardeada com presunçoso orgulho pelos seus habitantes, num país onde praticamente não se compra esse liquido engarrafado. Na Islândia enche-se a garrafa com agua da torneira e se estamos em viagem, nos rios ou nascentes. Se vemos alguém de guarda chuva ou a comprar agua engarrafada nos supermercados, cheira a turista ou visitante ocasional.
Existem milhares de quedas de água por toda a Islândia, sendo uma das suas principais atrações. Quando estou com os grupos na estrada, divido sempre os rios em 2 grupos: os rios de nascente e os rios glaciares (de geleira). Os rios de nascente tem a cor mais azulada e são translúcidos. São também mais caudalosos no Inverno, como acontece, por exemplo, em Portugal e no Brasil. Os rios glaciares (de geleira) tem uma cor acastanhada (barrenta), devido ao "polimento" e consequente libertação de areias e detritos, originado pelo avanço e recuo dos glaciares (geleiras). O seu caudal é maior durante o verão, devido ao maior degelo provocado pelas temperaturas mais altas. É o caso de Dettifoss.
Dettifoss pelo lado Oeste
Dettifoss é considerada a mais caudalosa e poderosa queda de água da europa. Localiza-se dentro dos limites de um Parque Nacional, onde se encontra Vatnajökull o maior glaciar (geleira) da europa. Num dos limites do glaciar, nasce o rio Jökulsá á Fjöllum (traduzido: rio glaciar das montanhas), que se dirige de sul para norte da ilha, até desaguar no oceano glacial ártico (ou atlântico norte). Ao longo dos séculos, o glaciar tem avançado e recuado. Depois da ultima glaciação o seu recuo cavou um canyon e originou esta imensa queda de água - Dettifoss. Com os seus 100 m de largura e 45 m de altura tem um caudal médio de aprox. 190 m³/s, mas durante o verão pode deixar cair muito mais de 200 m³/s.
Dettifoss fica no planalto central islandês, envolta em pedra, pó e areia. O ano passado foi alcatroado o acesso o oeste pelo sul. Mas a melhor vista continua a ser pelo lado leste, onde a estrada continua a ser em terra batida, "gravilhada" aqui e acolá. Apesar do pó vale a pena a viagem. Pela queda de água em si, pelas colunas basálticas e formações rochosas do canyon e por toda a envolvência inóspita, por vezes lunar, que nos pode remeter ao imaginário de uma busca a um qualquer "pueblo" mexicano perdido, algures no tempo e no espaço.
Vídeo com Dettifoss filmada pelo lado oeste e pelo lado leste
Pelo menos, desde o inicio do XV, pescadores de todo o mundo tem vindo pescar nas aguas ricas de peixe em redor da Islândia. As capturas feita pelos pescadores estrangeiros foram crescendo ao longo dos séculos, especialmente no final do século XIX, com o incremento das novas traineiras a vapor. Apenas durante as duas Grande Guerras Mundiais ouve um recuo. Mas depois destas terminarem, os barcos e traineiras (com alemães e britânicos à cabeça), regressaram em grande número, em busca do principal recurso dos islandeses.
Guerra do bacalhau: com abalroamentos entre vasos de guerra britânicos, barcos da guarda costeira islandesa e as traineiras de pesca.
Limite das aguas territoriais islandesas de 3 para 4 milhas - 1952
Os limites das aguas territoriais não eram precisos antigamente e dos séculos XVII até ao século XIX, eram normalmente considerados até 16 milhas de distancia do perímetro da costa. Mas a situação mudou quando, em 1901, a Dinamarca faz um tratado com o Reino Unido, em que ficou definido que as aguas territoriais islandesas seriam de apenas de 3 milhas para lá do perímetro da ilha. Como resultado deste acordo, nunca antes, próximo da Islândia, havia sido pescado tanto peixe, como no inicio do século XX. Isso fez com que os grandes cardumes próximo da costa fossem devastados pela excessiva captura. Os islandeses tinham noção que esta situação tinha de ser alterada, mas estavam amarrados pelo tratado. O primeiro passo para inverter esta situação é dado após a independência, com a nova legislação de 1948, onde é prevista uma proteção de cariz cientifico para os locais de desova e de proteção e racionalização de cardumes em redor do país. O segundo passo é a extensão do perímetro de aguas territoriais em mais 1 milha náutica em 1952, primeiro na costa norte e depois em redor de toda a ilha. Ao mesmo tempo, todos os fiordes são fechados a traineiras e barcos de pesca. O que se revelou uma medida acertada para proteger os viveiros e locais de desova de diversas espécies, como o bacalhau.
Todas as nações aceitaram os novos limites, exceto os britânicos que protestaram veemente e como retaliação, passaram a boicotar as exportações de peixe pescado pelos islandeses. Inicialmente isto originou um impacto negativo na economia islandesa, já que os pescadores islandeses vendiam bastante da sua captura nos mercados britânicos, mas novos mercados depressa apareceram como os EUA (para o peixe fresco), a URRS e outros países (para peixe em conserva e congelado). Sendo assim, o boicote acabou por não ser uma arma de impacto na economia islandesa, como esperavam os britânicos.
Limite das aguas territoriais islandesas de 4 para 12 milhas - 1958
No anos 50 iniciou-se o debate internacional acerca das aguas territoriais e os limites (cotas) de pesca. Em 1958, na Convenção Internacional de Geneve, a maioria das nações foram favoráveis aumento das aguas territoriais para 12 milhas além do perímetro da costa de cada país. A Islândia decide fazê-lo no dia 1 de Setembro de 1958, e as embarcações de pesca estrangeira respeitaram estes novos limites, exceto os britânicos. Para evitar que a Guarda Costeira islandesa capturasse os barcos e os arrastasse para o porto mais próximo, os britânicos enviam vasos de guerra de forma a proteger os seus barcos de pesca.
Um clima de "guerra fria" instala-se nas aguas territoriais islandesas a que se denomina de Guerra do bacalhau (cod war). O conflito teve vários episódios, destacando-se quando os marines aprisionaram a tripulação de um barco da guarda costeira islandesa, por estarem a rebocar um barco de pesca britânico para o porto mais próximo. Após terem mantido os elementos da guarda costeira a bordo durante algum tempo, deram-lhes um pequeno barco a meio da noite e ordenaram que rumassem até à costa. Esta "guerra do bacalhau" durou até 1961, altura em que foi assinado um tratado, em que os ingleses reconheceram as 12 milhas de aguas territoriais islandesas, mas em contrapartida era-lhes concedido o direito a pescar em certas áreas, entre as 6 e as 12 milhas, nos 3 anos seguintes. No mesmo tratado, foi feita uma clausula questionável, em que obrigava a Islândia a não estender mais os limites das suas aguas territoriais no futuro. Caso não respeitasse estaria sujeita a sanções. Esta clausula abusiva, iria causar dificuldades futuras.
Limite das aguas territoriais islandesas de 12 para 50 milhas - 1972
Em 1970, os políticos islandeses começam a discutir a necessidade de aumentar ainda mais o limite das suas aguas territoriais, de forma a proteger e restabelecer os cardumes, já que estes necessitavam de mais proteção. Em 1971, com a tomada de posse do novo governo, decide-se estender, no ano seguinte, os limites de 12 para 50 milhas. A Islândia assumiu assim a liderança na decisão de aumentar as aguas territoriais, numa altura em que a maioria dos países se mantinha nas 12 milhas. Os alemães e os britânicos protestaram, reforçados pelo tratado de 1961 que originaria sanções por um Conselho internacional. Mas a Islândia recusou apresentar-se a qualquer Conselho internacional, argumentando que eles não deveriam interferir nesta matéria. Mas o Conselho internacional reuniu-se e num veredito preliminar, concede o direito de pescar determinadas quantidades de pescado, entre as 12 e as 50 milhas, aos barcos britânicos e alemães. Independentemente disso, os islandeses resolvem unilateralmente, estabelecer os limites das suas aguas territoriais em 50 milhas além do perímetro da ilha, com efeito a partir de 1 de setembro de 1972. Os britânicos e os alemães não respeitaram, e as suas traineiras recomeçaram a ser escoltadas, uma vez mais, por vasos de guerra dentro dos limites estabelecidos pelos islandeses. Assim, um novo conflito se inicia.
Os islandeses tinham, desta vez, produzido uma arma secreta. Um arpão preparado para rasgar as redes dos barcos de pesca estrangeiros. Esta arma demonstrou-se eficaz, mesmo quando estas embarcações pescavam em conjunto e escoltadas de perto pelos barcos de guerra. Farto dos distúrbios originados pela guarda costeira islandesa, os pescadores pedem mais proteção aos seus governos e em 1973 são enviadas fragatas de guerra britânicas para dentro dos limites das 50 milhas. Aos pescadores foi-lhes dito que pescassem em grupo de forma a poderem ser protegidos, mas obviamente que em pequenos espaços e com movimentos limitados, as capturas não era compensatórias. enquanto o braço de ferro entre islandeses e britânicos se mantinha foi dada ordem para o embaixador islandês em londres regressar e posteriormente foi combinada uma reunião entre os primeiros ministros de ambos os estados em Inglaterra. Um novo tratado foi realizado. Os ingleses comprometiam-se a respeitar os novos limites, mas durante os 2 anos seguintes era-lhes permitida a captura em determinadas áreas especificas, dentro dos limites das aguas territoriais islandesas. Isto, desde que não fossem usados grandes arrastões. Este acordo com os britânicos não se estendeu aos alemães, pelo que a Guerra do bacalhau continuou.
Por esta altura, o Conselho internacional pronuncia-se dizendo que a decisão dos islandeses foi ilegal.
Limite das aguas territoriais islandesas de 50 para 200 milhas - 1975
Em 1974 aconteceu a Convenção de Caracas, organizada pela ONU, com o objetivo de estabelecer uma lei única e geral a todos, no que respeita aos mares. Uma grande parte dos países defende que os limites das aguas territoriais deveria de ser 200 milhas, para lá da linha costeira dos estados. Reforçada pela Convenção de Caracas, a Islândia decide, mais uma vez, alargar o limite das suas aguas territoriais das 50 para as 200 milhas, com efeitos a partir de 15 de Outubro de 1975.
esta nova decisão tornava-se efetiva logo após o termino do contrato, com validade de 2 anos, feito com os britânicos em 1973. uma nova Guerra do bacalhau começou e os barcos de guerra britânicos regressaram para as proximidades da Islândia, com o intuito de proteger os seus barcos de pesca, da guarda costeira islandesa. Desta vez, os islandeses fizeram acordos com a Bélgica, a Alemanha e outros países, em que em troca do reconhecimento das novas aguas territoriais, lhes seria permitido capturas limitadas dentro das suas aguas territoriais, nos anos estipulados nos acordos. O embaixador islandês mais uma vez é chamado para o seu país reiniciando-se, nos mares da Islândia, uma fase de provocação entre os vasos de guerra britânicos e a guarda costeira islandesa. De referir ser impressionante ver os 3 barcos da guarda costeira islandesa a abalroar os grandes barcos de guerra britânicos. Refira-se que, tanto o rasgar das redes, como o abalroar dos vasos ingleses, passaram a ser episódios ainda hoje lembrados na Islândia. Os capitães e as suas tripulações, de 1958 e de 1972, eram tratados como heróis nacionais.
O agudizar desta conflito era vista com alguma apreensão pela NATO, até porque a base americana de Keflavík era, durante a guerra fria, de grande importância estratégica. Existia o receio que a Islândia pudesse deixar de cooperar com a NATO. Assim, esta entidade, inicia conversações entre os dois países da sua organização, com o objetivo de pacificar a situação. Ao mesmo tempo, o clima internacional começava a jogar a favor dos Islandeses. Cada vez mais países, estipulavam os mesmos limites para as suas aguas territoriais. Por fim, a União Europeia estabelece esse limite como a jurisdição legal de cada país em 1977. Nessa altura, os britânicos são obrigados a aceitar as aguas territoriais islandesas e a Guerra do bacalhau aproxima-se do seu final. As negociações entre os dois países decorrem em Oslo, iniciando-se em 1 Junho de 1976. Um tratado foi assinado e no dia 1 de Dezembro de 1976 o ultimo barco de pesca britânico sai das aguas territoriais islandesas.
Esta é considerada uma vitória total dos islandeses e um dos maiores orgulhos da sua história.
Epílogo
Em 25 anos, a Islândia aumentou as suas aguas territoriais de 3 para 200 milhas. A guarda costeira, com a solidariedade de toda a nação, teve um papel preponderante. Não se pode, também desprezar, as tendências da lei internacional, que nesta matéria foram indo ao encontro das decisões islandesas. Por último, refira-se a simpatia e apoio que foi recebendo, já que se tratava de um país pequeno a confrontar uma grande potência.
Música delicada, mais doce do que agre (embora também), mais uma vez remete-nos ao onírico. Cada pequeno som poderia ser o serpentear da neve cruzando a estrada, no inverno islandês. Por vezes, essas serpentes brancas apenas se estendem, contorcendo-se em movimentos preguiçosos. Outras vezes, formam cortinas impelidas pelo vento forte que nos retira o espaço, envolvendo-nos numa outra dimensão. Flutuando além do nosso tempo, somos transportados pelo som dos Sigur Rós. A saga do pós rock retro ambiental de contornos vanguardistas, é a melhor representação da dimensão dos espaços intocados e da natureza na Islândia. Ekki Múk, a nova música, precede o álbum a sair em Maio próximo. Tem tudo o que a banda nos habituou (incluindo a estética do vídeo). Demasiada beleza que não retirou um pequeníssimo travo a "déja vu", relativamente aos anteriores álbuns dos Sigur Rós. Um dia, gostaria de ser um dos passageiros do barco no vídeo.
Depois de alguma ausência do blog, estou já, a preparar alguns textos, vídeos e fotos para recomeçar as postagens.
Numa altura em que o verão se aproxima, juntamente com a época de alta turística, deixo um pequeno vídeo com algumas viagens que fiz como guia em 2010, aqui na terra do gelo e do fogo. São breves momentos acompanhando e dando a conhecer a Islândia, tanto a grupos grandes como individuais.
Entretanto a Ice Tourism sugere dois programas na Islândia que deixo nos links abaixo:
1. À Descoberta da Islândia 2012: O nosso programa de verão para grupos com saídas/datas em:
23 a 30 de Junho
7 a 14 de Julho
21 a 28 de Julho
4 a 11 de Agosto
Qualquer pessoa pode-se inscrever pelo preço de 1709 €.
Inclui guia em lingua portuguesa, Blue Lagoon, museus assinalados, seguros, autocarro, Alojamento em hotéis regime B&B.
2. Islândia em Apartamentos, Chalés, Guesthouses e Pousadas 2012: A forma mais barata de viajar na Islândia. Um produto direccionado para o viajante independente, que gosta de explorar a natureza. Se dispensa o hotel e é movido pela curiosidade, descoberta, conhecimento, interactividade, de conduzir por si próprio e sentir a realidade dos países, este é o pacote ideal! Preço desde 590 €.
Inclui carro (em sistema de Self & Drive), seguros, estadias em chalés, guesthouses e pousadas em lindíssimos locais, capa com brochuras, programa e mapa com o percurso, locais de interesse turístico e o alojamento devidamente assinalados, telemóvel, Transfer no dia da partida, museus assinalados e Blue Lagoon.
20 de março de 2010. Após a meia noite o vulcão venceu o gelo do glaciar, oferecendo-nos um dos mais belos espectáculos da natureza.
Estava eu no leste da Islândia, a passar um fim-de-semana com os amigos num local muito bonito chamado Eskifjördur, quando recebo a notícia do início de actividade do vulcão. Pelo menos, o inicio visível, já que há vários dias que a actividade sísmica da região era intensa. A questão era saber, se resultaria numa erupção com estas características.
É então a altura de abordar novamente o assunto do vulcanismo na Islândia. E já que este vulcão se encontra no meio de um glaciar, o que proporciona imagens vídeo de rara beleza, vou abordar nos próximos dias, o delicado equilíbrio entre vulcões e glaciares.
A preceder esse post, deixo este vídeo que mostra a beleza de um vulcão em erupção num glaciar. Repare-se que não existe um cone vulcânico e sim uma fissura que no caso do vulcão do glaciar de Eyjafjallajökull tem cerca de 1 km de extensão. A lava é lançada para o exterior ao longo de toda a fissura. Contudo, tendo em conta o historial vulcânico da Islândia este não passa de um pequeno vulcão. Quando o Hekla entrou em erupção no ano 2000, não foi apenas o cone vulcânico que explodiu. A terra abriu-se numa fenda ao longo de 8 km, lançando 20 milhões de m3 de rocha líquida por hora. Em termos geológicos denominam-se estas erupções de fissurais e são normais nos vulcões islandeses, ajudando a compreender por que motivo se produz na maior ilha vulcânica do mundo, 1/3 de toda a lava do planeta.
Com o vídeo fica a promessa de um post nos próximos dias, sobre a formação geológica da Iceland e o delicado equilíbrio entre o gelo dos glaciares e o fogo dos vulcões.
A minha expedição ao vulcão Fimmvörduháls no glaciar de Eyjafjallajökull
Vídeo da viagem. Um olhar entre a neve e as landscapes de 3 fiordes islandeses.
Viagem pelo Eyjafjördur, Siglufjördur e o Skagafjördur
A aventura da pesca do arenque e o Herring Era Museum.
No último fim-de-semana organizei um pequeno passeio a 3 fiordes do norte da Islândia. Foram 2 dias percorrendo o oeste do fiorde Eyja, o fiorde Siglu e o fiorde Skaga.
Não foi, contudo, uma jornada nova para mim. Aliás, já postei idêntica viagem com o meu amigo Nuno, quando ele visitou a Ilha (ver post: http://iceland-views.blogs.sapo.pt/6720.html).
A Paixão com que fiquei por Siglufjördur, a cidade mais a norte da Islândia, situada num pequeno e encantador fiorde, fez com que preparasse este passeio com particular expectativa. Ia voltar a um local que me tinha fascinado em Maio passado. Sabia que agora a paisagem seria bem diferente, e que o extenso manto branco do inverno insular me acompanharia ao longo das distintas landscapes.
Na semana que antecedeu a viagem telefonei para os responsáveis dos museus que pretendia visitar. Normalmente, durante o inverno, encontram-se fechados. Assim, a melhor garantia, é usar o telemóvel, de forma a marcar uma hora.
As impressivas montanhas islandesas
O 1º Dia. Do Eyjafjördur até Siglufjördur
Partimos pelas 8 h da manhã, debaixo de -12º C, rumo a Dalvík, onde se situava a primeira paragem previamente combinada (sabíamos que iríamos fazer muitas outras pelo caminho), de forma a vermos o museu Hvoll, que além de englobar uma colecção da história material, social e natural da região, foi a casa do homem mais alto do mundo. No museu poderemos conhecer todas as estórias que construíram a História da região (http://www.dalvik.is/byggdasafn/).
Pelo caminho, podemos apreciar as panorâmicas que só o Eyjafjördur é capaz de nos proporcionar.
A monotonia sugerida pelo constante manto de neve, é combatido pelos degrades cromáticos da mágica luz solar que em jogos fugidios com o algodão das nuvens, me fascinava em cada pausa para contemplação.
O Inverno islandês tem algo de mágico. É essa magia que nos transporta para os seus contos tradicionais, conjunto de fábulas povoadas de pequenos seres mágicos e gigantes de pedra, que só visualizamos quando envoltos na solitude épica das landscapes islandesas.
São séculos de isolamento, entre o fogo dos vulcões, o branco das montanhas escarpadas desenhadas pelo degelo dos glaciares e um céu desmaiado de púrpura que à noite se transforma, por vezes, em serpentes coloridas, movimentando-se no silêncio mais profundo.
Saímos do museu em Dalvík, para visitar o porto da cidade.
Continuando viagem, seguimos na direcção de Olafsjördur, mais uma pequena cidade, num fiorde de reduzidas dimensões. Antes de entramos no túnel que liga o Eyjafjördur ao Olafsjördur, mais uma paragem para apreciar a belíssima panorâmica que percorre o mais longo fiorde do país.
De seguida, teríamos de cruzar a montanha rumo a Siglufjördur. Estava preocupado pois éramos 5 num VW Pólo. Se a estrada não estivesse limpa, o carro iria patinar nas subidas, sem conseguir avançar. Tivemos sorte, pois os 2 dias anteriores tinham sido de céu limpo, acompanhado de temperaturas negativas. Além disso, fizemos a estrada pela tarde. Ou seja, já batida por outras viaturas mais bem preparadas para as agruras islandesas. O facto de estrada ser em gravilha e não alcatroada acabou também por ajudar. Muitas vezes, ouvimos a neve raspar por baixo dos nossos pés, já que no vácuo formado pelo eixo das rodas se acumulava neve. E assim cruzamos a montanha, ao som dos Beatles, FM Belfast, Ojos de Brujo e algum jazz.
Antes de chegarmos a Siglufjördur, fizemos uma paragem especial numa das panorâmicas que mais me fascinaram até hoje. Trata-se da confluência entre o lago Mikla e o oceano glaciar Ártico. No post da viagem em Maio passado, coloquei uma foto desta vista, onde poderão notar as diferentes texturas entre a água do lago e a água do oceano, separadas por um singelo cordão de pedras. Desta vez, o lago não só estava congelado, como também, carregado de neve. Parecia que o oceano magicamente se detinha na neve fofa, como que capaz de afagar a sua revolta nas suas carícias mais ternas. Assim se revelava a solitude épica, tão cinemática e reconciliadora. Ao longe as impressivas montanhas de íngremes colinas, tão características do país, compunham a tela.
Estávamos quase em Siglufjördur, onde iríamos pernoitar. Eram 17 horas e os azuis mais carregados anunciavam o crepúsculo. Passamos pelo pequeno farol laranja que anunciava a proximidade do nosso destino. Fazendo a estrada que agora se estendia paralelamente ao oceano, chegamos ao túnel de 900 m de extensão, porta de entrada do fiorde que anteriormente me havia encantando. Tudo no isolamento pode virar mágico. Até a singularidade da imensa porta vertical, que se abria lentamente à chegada de uma viatura, para se fechar de seguida, como se estivéssemos a entrar num conto de fadas. E assim fomos tragados por aquela gruta e quando na outra extremidade a porta se abriu, deparamos com o bonito fiorde, onde ao fundo, adormecida nas encostas dos rochedos escarpados, descansava na neve, a cidade de Siglufjördur.
Siglufjördur adormecida
Conhecendo Siglufjördur
Siglufjördur é uma pequena cidade situada no fiorde que lhe dá o nome. É um sereno recanto, onde raramente o vento sopra, fazendo da cidade um simpático, bonito e acolhedor porto de abrigo. Observá-la no verão é tão agradável como no Inverno. Aliás, esse é um dos encantos da Islândia. É que o país, consoante a estação, encerra belezas tão extremas, como possuidoras de um encanto dificilmente explicável. Os recantos têm de ser vivenciados e sentidos.
“Ocupada” 2 vezes pelos noruegueses, a primeira em 900 DC pelo viking Thórmodur Rammi e a segunda, a partir de 1903, com a construção da mais importante cidade piscatória de arenque, de toda a Islândia, Siglufjördur vive na recordação dos seus tempos áureos. Actualmente tem cerca de 1500 habitantes, mas teve já mais de 3000 habitantes.
Durante dezenas de anos, toda a sua vida centrou-se na captura de arenque e no seu processo – a salga do peixe e a produção de óleo e das conservas em lata, tornando-se num dos mais importantes portos do país.
Em alguns anos a exportação de arenque e seus derivados, representaram mais de 20% do total das exportações islandesas. Nesses anos, a cidade chegou a ter mais de 3000 mil habitantes, entre fábricas e habitações, sendo impressionante ver os filmes retratando a vida neste período. Uma vida dura, de muito trabalho, tanto para os homens como para as mulheres. Enquanto os homens trabalhavam no mar, às mulheres incumbia a salga do peixe, bem como o trabalho nas fábricas. Nos períodos de grande captura, chegavam a trabalhar mais de 24 horas. Contudo, as mulheres chegavam, muitas vezes, a receber um salário superior ao dos homens.
Com o desenvolvimento da aventura da pesca do arenque e a consequente chegada e fixação de colonos, a atmosfera fez de Siglufjördur a Klondique do Atlântico. A cidade atraiu os especuladores da indústria do arenque, originando fortunas e perdas tão repentinas quanto fugazes, consoante os caprichos dos booms e escassez dos cardumes.
Durante vários anos este recanto da Islândia foi a “Meca” de milhares de trabalhadores e assalariados à procura de trabalho.
Se é verdade que esses tempos fazem parte do passado da cidade, não é menos verdade que são a grande saudade do presente. Uma saudade tão grande, quanto a memória alcança.
vista do porto de Siglufjördur
O Herring Era Museum
vídeo do Herring Era Museum
Para se ter um excelente museu não é preciso ter as dimensões de Serralves. O mais importante é a pesquisa, a organização, a disposição e a capacidade de comunicação. O Herring Hera Museum tem tudo isso, sendo um dos mais interessantes que visitei na Islândia. É o mais importante museu marítimo e industrial do país e condecorado com o Iceland Museum Award 2000, bem como com o Micheletti Award - melhor novo museu industrial da Europa em 2004.
Em nenhum outro local se pode perceber tão bem a Islândia e a sua história. No fundo, o museu retrata a história do país, a sua dureza e disponibilidade. A aridez e o trabalho árduo. A pesca em condições extremas como condição praticamente única, motor de desenvolvimento da economia e de um país.
Tudo isto reflecte-se, ainda nos dias de hoje, na forma do islandês ser e relacionar-se.
O Herring Era Museum é composto por 3 edifícios.
O Roaldsbrakki é o primeiro, sendo uma casa construída em 1907 e era uma das estações de salga do arenque. Em 1916 produziu mais de 30.000 barris de arenque em salga e no R/C situava-se a linha de salga e a loja.
No 1º piso situava-se o escritório onde os trabalhadores recebiam o salário semanal e onde se encontrava a engrenagem, bem como a especiarias usadas para marinar o peixe. Foi posteriormente convertida nas acomodações dos trabalhadores.
No 2º piso eram os quartos, tanto masculinos como femininos e uma pequena cozinha.
No sótão ficava algum peixe, bem como o equipamento usado necessário para a salga do arenque.
O segundo edifício do Museu é a Factory onde se situava toda a maquinaria para produzir o óleo, bem como as conservas, posteriormente exportadas para mercados como a Suécia, Dinamarca, Finlândia, Rússia, Alemanha e EUA. Uma indústria importante para a Europa, nomeadamente durante o período de escassez entre as duas grandes guerras.
Por fim, resta falar no último dos edifícios que completa o museu. Trata-se da Boathouse. Aqui, poderão ser vistos os barcos usados na pesca do arenque, bem como passear na recriação do porto, de forma a sentir a atmosfera dos anos passados.
A pequena ilha de Drangey à esquerda e a ilha de Málmey à direita. Ambas no Skagafjördur
Depois da noitada em Siglufjördur ter-se estendido pela madrugada a viagem do segundo dia começou depois do meio-dia. O sol escondeu-se por cima das nuvens que acordaram a cidade com doces flocos de neve, tocando as casas levemente. Assim, desistimos de subir até à estação de esqui, já que não iríamos conseguir desfrutar da vista sobre o fiorde, perdida no modorrento nevoeiro.
Seguimos para o Skagafjördur em direcção ao oeste islandês. Atrás, em tons serenos, ficava Siglufjordur, guardada em segredo, pela porta do túnel que se cerrava nas nossas costas.
O Skagafjördur situa-se entre o maior conjunto montanhoso do norte da Islândia, o Tröllaskagi (península dos gigantes) e o cabo Skagi. Salpicado por alguns centros piscatórios, é uma das mais prósperas regiões agrícolas do país, com diversas quintas, onde se destacam a criação de ovelhas, cavalos e a produção de lacticínios.
Aqui se poderão fazer belos passeios no cavalo islandês, uma raça que se caracteriza pela sua enorme resistência. Este cavalo de dimensões semelhantes ao pónei (chamar de pónei a este cavalo seria ofensivo para qualquer islandês) tem a particularidade de não limitar os seus andamentos aos habituais passo, trote e galope. Por não ter sido treinado para as lides da guerra manteve duas formas de andar, o tolt e o pace, que os outros, há muito perderam. Eu não montei ainda nenhum destes cavalos. Mas dizem ser o tolt, um andamento muito rápido e suave que faz as delícias de quem o monta.
O pequeno, robusto, bonito e sorridente cavalo islandês, foi companheiro de tropelias na neve e motivo de várias paragens durante a viagem.
Quando chegamos a ao Skagafjördur a primeira imagem com que somos recebidos e que nos deslumbra é a visão da ilha de Málmey, onde parece que a estrada vai desembocar. Com a aproximação, reparamos que a água do fiorde nos separa desta estreita ilha de lava, com cerca de 4 km de extensão e de penhascos íngremes.
Mais ao longe, perdida no meio do fiorde, repousava Drangey. Este rochedo é o palco de uma das sagas islandesas. As sagas são as mais famosas histórias em prosa da literatura islandesa e relatam os feitos e acontecimentos vikings, ocorridos durante os séculos X e XI. Segundo esta saga, o rochedo foi o ultimo refugio do proscrito guerreiro islandês Grettir Ásmundarson (Grettir the strong), que viveu os últimos anos de vida na companhaia do seu irmão Illugi e do seu escravo Glaumur, antes de ser assassinado por Þorbjörn Öngull.
Reza a lenda que a origem da pequena ilha rochedo se deveu à tentativa de 2 trolls (gigantes da mitologia nórdica) atravessarem o fiorde pela noite. A meio da travessia foram surpreendidos pelos primeiros raios de sol da alvorada, ficando petrificados. Drangey é a vaca que os acompanhava, o pequeno rochedo Kerling a suposta mulher troll e o gigante masculino, o rochedo Karl, há muito foi tragado pelas águas.
Todas estas ilhas rochedo de origem vulcânica (a não ser que acredite em trolls), são pequenos santuários de aves entre Abril e Setembro. Durante esse período poderão ser observados e fotografados espécies como o Puffin (papagaio do mar), o guillemot, o corvo, o falcão, entre outros. De igual modo, esta é uma região a visitar pelos amantes do rafting, devido aos rápidos dos rios que desembocam no fiorde.
A viagem prosseguiu com uma pausa na vila piscatória de Hofsós. Infelizmente não tivemos tempo para visitar o Centro de Documentação de Emigração nem a exposição acerca de Drangey. Mas eu voltarei, não tenho dúvidas.
As últimas paragens foram em Hólar e Saudárkrókur.
Hólar é a mais antiga diocese do norte da Islândia (foi fundada no século XII).
Saudárkrókur é (depois de Akureyri) a maior cidade do norte da Islândia (2700 habitantes).
São dois locais que merecerão postagens futuras e para não vos massacrar mais, afinal este post já leva mais linhas do que habitual, encerro o relato desta viagem.
Espero que os vídeos e as fotos consigam transmitir algumas das sensações que só a natureza e os locais visitados conseguem transmitir.
Chegamos cansados a Akureyri. O cansaço de um corpo moído, mas feliz.
Desde a viagem de regresso à terra do gelo e do fogo que pretendo postar sobre o colapso dos bancos do país, ocorrido em Outubro passado. Da intenção à publicação passaram mais de 2 meses, transformando este num post adiado.
Não tenho formação em economia e sendo assim, esta é a dissertação possível, redigida por um leigo. Mas todo o ser humano é imbuído de inteligência, sensibilidade e percepção e se juntarmos a isso, alguma atenção e capacidade de leitura, poderemos desenvolver um sentido crítico que permita uma abordagem pessoal (subjectiva) da temática.
Não acredito que as ciências sociais, mesmo recorrendo ao máximo rigor metodológico, consigam ultrapassar a barreira da subjectividade. É que as instituições que produzem ciência são constituídas por pessoas, que apesar de todo o esforço, estão condicionadas pelas suas vivências individuais. Os paradigmas, estão assim sujeitos a um prazo de validade, fruto da época e regulados pelas convicções de quem faz e produz ciência (e não só!).
A história tem-nos demonstrado que a mutação é uma constante, não sendo as verdades eternas ou absolutas.
Resta-nos acreditar que a Inteligência e a Cultura faz-nos seres humanos mais disponíveis e menos rígidos, prontos a dispensar a estilística retórico-dialético-demagógica, que normalmente é servida com vestes de presunção.
O colapso económico
O resto do mundo olhava com desconfiança para o milagre económico islandês e estes, do cimo da sua sobranceria, riam-se disso. Mas os meses de Setembro e Outubro de 2008 vieram demonstrar a fatalidade de um capitalismo desregrado, da especulação e do crédito fácil.
A crise terá começado com as sub-prime americanas (hipotecas de alto risco revendidas como produtos de investimento para o mundo). Quem investiu nesses produtos “tóxicos”, aliciado por juros mais altos, mas frutos da especulação de um sistema sem regras, acabou por perder tudo. Ao primeiro alarme de crise, a desconfiança dos bancos relativamente a outros cortou as linhas de crédito entre eles e depois foi a bola de neve começar a rolar…
O problema islandês explica-se facilmente. Os bancos cresceram desproporcionalmente à economia real do país. Com sucursais e clientes em diversos estados, o seu património chegava a ser quase 12 vezes o PIB (produto interno bruto) da ilha.
A Islândia é um país super consumista onde todas as pessoas (independentemente da idade) tinham e compravam a crédito.
Quando as linhas de crédito entre os bancos internacionais deixaram de funcionar e o sistema bancário do país começou a ter dificuldades de financiar as operações, foi o ruir da economia islandesa, já que o “pobre” estado era uma formiga à beira da dimensão e do volume de clientes e depósitos dos bancos do país.
Só que aqui entram alguns erros para ajudar na “festa”. Erros que a mim não me admiraram nada, dado que vem na sequencia de um post anterior (Considerações sobre a Islândia:http://iceland-views.blogs.sapo.pt/8696.html). Nesse post, editado antes do colapso económico do país, dava conta da sobranceria e arrogância islandesa, tão ao jeito de quem vive fechado na sua ilha, urrando como vikings com roupas do século XXI. O Islandês médio gosta de dizer que os europeus (leia-se União Europeia) são demasiado vagarosos. Para um islandês é difícil entender que é preciso saber parar e reflectir, com o intuito de rentabilizar e fazer bem.
Um país construído através da disponibilidade física, necessária para aquela que ainda é a principal actividade dos país, a pesca, a que se junta as exigentes condições climatéricas do passado sem o conforto das ultimas três décadas e o isolamento relativamente ao mundo que se reflecte num certo eremitismo social, condicionou o desenvolvimento de certas técnicas de subtileza e de polimento social. É através da Arte e Cultura que o islandês tenta ir buscar essa beleza e graciosidade que lhe falta. Uma amiga brasileira que visitou a Islândia no último verão, numa explicação de momento, sugeriu que as montanhas mais áridas necessitam de proteger as poucas flores que as embelezam. A Arte e a Cultura são as flores que embelezam o dia a dia das frias relações sociais na Islândia. Assim, essas manifestações tem sido de crucial importância, embora muitas vezes sejam mais devoradas do que contempladas. O Islandês na sua aura de "destemeridade" (e isso eles são!) age como estando sempre correcto! Existe algo de primário nesse comportamento, lembrando-me o finório português que pegando no automóvel, faz o IC1 Póvoa – Porto em 15 minutos, pé a fundo no acelerador. Chegado ao destino final, na inconsciência do perigo de tal forma de conduzir, vai berrar entusiasmado a sua saga, julgando ser o maior do bairro que para ele é a representação do mundo.
Mas verdade seja dita, para o islandês não existem perigos, ou não se tratasse de um sobrevivente da (sua curta) História.
Quando se pode olhar o mundo, entre garrafas de cervejas, num resort mediterrânico, há uma tendência para a arrogância – não compreendemos que, visto na distância de um resort (ou da Islândia), tudo se torna indistinto e acabamos por imaginar as coisas em vez de vê-las. Uma viagem às cidades e aos países reais, mesmo que nas férias, seria uma boa terapia para estes intrépidos vikings.
Mas o erro que ajudou à festa foi a desnecessária frente de batalha com os ingleses. Com aquele jeito de quem ergue a espada, o primeiro-ministro Geir H. Haard, resolveu dar o "calote" nos depositantes britânicos (e não só), anunciando na televisão, após a nacionalização dos bancos, que não pagaria um euro aos súbditos de sua majestade.
Sabemos que existem coisas que podemos pensar, mas nunca dizer. Um país na bancarrota necessitaria de uma diplomacia mais sagaz.
Ser polite nunca foi o forte dos vikings. Acontece que o primeiro-ministro britânico G. Brown não se atemorizou com este acto destemido (a guerra do bacalhau não se repetiu desta vez) e recorrendo à lei anti terrorista britânica, confiscou todo o património dos bancos islandeses na Inglaterra. Contudo, a acção britânica não ficaria por aí. A Islândia na bancarrota necessitava de dinheiro urgente, para que a ilha não se afundasse por completo. O gigante britânico facilmente jogou a sua diplomacia nas instituições internacionais (e sabemos que os britânicos não dão ponto sem nó). O resultado foi o FMI ter desbloqueado rapidamente um empréstimo no valor de 2,1 mil milhões de dólares, mas só depois de o governo islandês ter chegado a um acordo com a Inglaterra, a Holanda e a Alemanha e ter assumido restituir os depósitos de clientes estrangeiros nesses países, num máximo de 26 mil dólares por cliente. O valor total que o governo islandês terá de pagar a esses países ronda os 4.3 bilhões de dólares. Sabendo que a Islândia não possui esse dinheiro, a Inglaterra, Holanda e Alemanha irão emprestá-lo de forma a ser usado para pagar as restituições.
Assim, de um dos países mais ricos do mundo por habitante, a Islândia passou para um dos países mais endividados do mundo por habitante!
Embora descontextualizando, recordo a frase de Muhammad Yunus, Prémio Internacional Símón Bolivar em 1996 e fundador do Banco Grameen, que numa reflexão no seu livro “O Banqueiro dos Pobres” diz: “… É extremamente difícil ao devedor libertar-se do ónus do empréstimo. Habitualmente, é obrigado a pedir emprestado outra vez para reembolsar o empréstimo anterior, e, por fim, a única saída é a morte.”
O dia em que os islandeses começaram a lutar
Protestos em 8 de Novembro, em frente ao parlamento em Reykjavík
Quando à pouco mais de 1 ano cheguei à Islândia, uma significativa parte do trabalho da polícia era dedicado aos distúrbios e violência, originados pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas no país, bem como ao controle do tráfego rodoviário e dos respectivos limites de velocidade.
Os agentes da autoridade não usavam armas de fogo e embora o número de roubos e assaltos em Reykjavík estivessem a crescer, não tinham a expressão actual. Muitas das viaturas ainda passavam a noite com as portas destrancadas. Apesar disso, o crescente uso de estupefacientes e a pequena associação criminosa (esta residual e atribuída exclusivamente a emigrantes lituanos e polacos) era já uma realidade.
Os islandeses nunca foram de grandes manifestações. Se recordarmos, os protestos do Saving Iceland (ver post sobre o futuro da economia islandesa e a polémica do alumínio: http://iceland-views.blogs.sapo.pt/4127.html) contra a instalação da indústria transformadora das fábricas de alumínio, que vinha a afectar o equilíbrio ecológico da ilha, nunca conseguiu mobilizar mais do que um punhado de pessoas.
Quando pela força das consequências, os islandeses tomaram consciência que a sua economia era um mau filme de ficção, começaram a manifestar-se todos os sábados, frente ao parlamento em Reykjavík.
A data de 6 de Outubro de 2008, ficará na história como o dia em que as manifestações de protesto contra o governo e o presidente do banco da Islândia se tornarem inevitáveis. Foi o dia em que o primeiro-ministro fez o discurso do desastre, do crash da economia islandesa. A partir dessa data, todos os sábados, grupos de pessoas começaram a manifestar-se em frente ao parlamento em Reykjavík, num crescendo proporcional ao aumento do desemprego e ao desaparecimento das suas economias. A primeira manifestação contou com 500 pessoas e em 22 de Novembro, foram cerca de 7000 pessoas (o país tem pouco mais de 300 mil habitantes).
As manifestantes eram de todas as idades e os ajuntamentos englobavam desde pró americanos até à esquerda mais anti americana.
Os protestos tinham início às 16 h e tomates, ovos, molhos de hambúrguer e outras iguarias passaram a ser constantemente arremessadas contra o parlamento, chegando a partir as janelas (pode não parecer nada de relevante para quem está já familiarizado com protestos em outros países, mas acreditem que na Islândia isto era algo de novo!). Num acto de provocação, um dos jovens subiu para a varanda do parlamento e colocou no mastro uma bandeira com a inscrição Sold to the IHF for 2 Billion Dollars.
A polícia foi tendo o cuidado de não intervir activamente, consciente que as coisas poderiam facilmente sair do controle. Apesar disso, Um grupo de intervenção das forças policiais denominado the Viking Squad esteve sempre alerta, retirando das esquadras coletes, gás pimenta, e outros utensílios habituais nos grupos de choque. Todo esse material, por fim sacudiu o pó que durante anos foi acumulando dentro dos armários.
Entre os vários episódios ocorridos nestas manifestações, destaque para o acto audacioso de um jovem do Saving Iceland, que subiu ao telhado do parlamento e hasteou a bandeira da cadeia de supermercados Bónus. Esta cadeia de supermercados é parte do império de Jón Ásgeir Jóhannesson, o maior empresário na área da alimentação e que detém parte dos media. Ele é uma das personagens centrais do colapso, na medida em que era o maior accionista do Glitnir, o primeiro banco que foi nacionalizado.
No dia 1 de Dezembro de 2008 comemorou-se os 90 anos da Independência do estado islandês, apesar de apenas se ter tornado república em 1944. Milhares de pessoas concentraram-se junto à estátua de Ingólfur Arnarson, o primeiro colonizador da ilha. Depois dos discursos habituais, optaram por atribuir as maiores culpas da situação a David Oddsson, o presidente do banco da Islândia, definitivamente o homem mais odiado no país actualmente.
Um grupo de dezenas de manifestantes resolveu então ir manifestar-se para o banco da Islândia e quando lá chegou deu de caras com 3 policias a guardar a porta de entrada. Como habitualmente começaram a atirar tomates e ovos, colorindo a entrada do Banco e os desgraçados agentes da autoridade.
Surpreendentemente, os agentes policiais abandonaram o seu posto, sob os aplausos da pequena multidão. Só quando os manifestantes subiram ao segundo andar se aperceberam que tinham aplaudido cedo demais. Por detrás da grossa porta de vidro, 30 polícias equipados, serviam de barreira, impedindo a passagem do ruidoso grupo. Nessa altura, é comunicado aos manifestantes que a manifestação tinha sido declarada de ilegal e que iriam usar gás pimenta para dispersar o ajuntamento, caso eles não o fizessem de livre iniciativa. Os sprays de gás foram utilizados, acabando muitos dos manifestantes no exterior agarrado aos olhos macerados.
Uma das tiradas mais interessantes de um manifestante foi: They won`t look into your eyes!. Podemos viver em guerra, mas nunca deixar de abraçar o humor!
Na passagem do ano um grupo de aproximadamente 500 manifestantes revoltados conseguiu silenciar um programa de televisão em directo no hotel Borg, com a presença do primeiro-ministro, queimando os cabos da emissora.
A intervenção policial, recorreu ao gás pimenta, enquanto os manifestantes respondiam com balões de água e foguetes (na passagem do ano é tradição todas as famílias comprarem foguetes e bombardear os céus entre as 21 h e as tantas da madrugada).
É engraçado ver no vídeo em anexo, os cozinheiros e restante staff do hotel a impedirem os manifestantes de entrar. É preciso contextualizar que este é um país de 300 mil habitantes, onde todas as pessoas, quando não se conhecem, têm pelo menos algum conhecido em comum. Ou seja, dos dois lados da barricada estão pessoas que no dia seguinte estarão a tomar uma cerveja juntos!
O que vale é que os Vikings batem-se num dia, e no outro confraternizam! Like in the past!
Protestos no hotel Borg em 1 de Janeiro de 2009
A queda do Governo e a crueza dos números de desempregados
Ao fim de tantos protestos o governo caiu (o governo de coligação de centro-direita englobava o partido da Independência e os sociais democratas). O primeiro-ministro Geir Haarde, anunciou ontem o que à muito era esperado. Já uns dias antes, tinham sido marcadas eleições antecipadas para 9 de Maio (as eleições numa situação normal seriam apenas em 2011).
O Presidente do país convidou, entretanto, os sociais-democratas, em rota de colisão com o partido de Geir Haarde na coligação do governo, a coligar-se com a esquerda, nomeadamente com os Verdes. É possível que as eleições possam vir a ser antecipadas novamente, afinal a Islândia é um país à deriva.
Neste momento, o único a assumir politicamente culpas da situação foi o Ministro do Comércio que no seu último acto demitiu o presidente do Fjárlmalaeftirlit, a Autoridade de Supervisão Financeira, responsável pela supervisão da expansão dos bancos (em Portugal está sobre a tutela do Banco de Portugal).
Entretanto, o desemprego tem vindo a aumentar rapidamente. Num espaço de um ano passou-se dos residuais 0,5% para mais de 6%. Em 27 de Janeiro de 2009, no Instituto de Emprego estavam inscritos mais de 12.800 pessoas. Grande parte em Reykjavík e perto de 800 em Akueryri). Se estes números não são maiores é porque o sector da construção civil que praticamente parou, era constituído por mão-de-obra estrangeira. Após o mês de Outubro, por falta de trabalho, retornaram aos seus países de origem.
Ainda de referir, que o aumento do desemprego e a desvalorização brutal da krona islandesa (Se trocar para euros, neste momento o meu salário é praticamente metade do que ganhava à um ano), faz com que alguns islandeses comecem a emigrar.
Somando estas duas variáveis, compreende-se o motivo de o numero de desempregados não ter ainda atingido os dois dígitos.
De referir também, que a empresa Creditinfo, publicou num recente artigo que cerca de 3500 empresas estão em risco de falência no ano de 2009, representando cerca de 11,5% das empresas registadas no país (num universo de aproximadamente 30.000 empresas registadas). Além disso, muitas das empresas sobreviventes irão ter de reduzir custos e inevitavelmente, despedir trabalhadores.
O papel do Estado
Uma das coisas mais admiráveis na Islândia é a protecção social e do trabalhador. Além do respeito (e grande receio) que existe por parte das empresas relativamente ao eficaz sindicato dos trabalhadores, o estado desempenha um papel importante nesta matéria.
Aquela maquinazinha, normalmente colocada numa parede, que em Portugal é conotada, muitas vezes, como controlador do trabalhador, na Islândia parece servir mais, para defender o mesmo trabalhador. É prática comum aqui receber-se à hora. Cada minuto fora do horário normal de trabalho (9 h – 17 h) é pago como hora extra. No fim de semana, o valor percentual da renumeração aumenta, recebendo-se ao Domingo, 35% acima do vencimento normal, em cada hora de trabalho.
As empresas respeitam isto, até porque a fiscalização e o sindicato dos trabalhadores, à mínima queixa de um funcionário, aparecem na empresa. O Estado, a fazer as contas, das pessoas que emprega, é também de uma correcção exemplar. Oxalá o despoletar da crise não altere o que eu considero exemplar no país.
Como referi acima, ao primeiro pé colocado fora da ilha, o que eu recebo hoje em dia na estância de esqui em Hlidarfjall, desvalorizou para metade. Mas não foi só a desvalorização da moeda que afecta os números do meu ordenado, no fim de cada mês. É que o Estado está a cumprir o seu papel, mesmo que em meu prejuízo. Vou passar a explicar:
Com o aumento do desemprego, a politica que tem vindo a ser adoptada pela Câmara Municipal de Akureyri (a estância de esqui é pertença da edilidade), é a de redução das horas de trabalho dos seus funcionários, de forma a empregar o número máximo de pessoas. Ou seja, o sacrifício de alguns, que com essa medida sofrem uma redução do ordenado ao fim do mês, em prol de mais pessoas terem as suas necessidades básicas (alimentação, possibilidade de pagar a casa, etc…) asseguradas. Desta forma, pretende-se que a população tenha um dia a dia normal, tendo em conta as condicionantes de um colapso económico.
Esta tem sido a politica do falido estado islandês, que mesmo de saúde tão periclitante, recorrendo a uma redução de ordenados e das horas de trabalho de alguns, não só tenta não despedir funcionários, como procura empregar o maior número de pessoas. Assim, cumpre o seu papel de protecção social e é estandarte de esperança, daqueles que sem culpa alguma, foram apanhados pela crise económica, despoletada por alguns, e da qual o próprio estado não pode deixar de assumir responsabilidades.
Sei que sou prejudicado, mas sei também que numa altura de dificuldades seria duplamente egoísta e imoral, a individualidade sobrepor-se ao colectivo.
O Mito
À alguns dias atrás, no telejornal em Portugal, passou uma reportagem, em que se falava do aumento das provocações e agressões a estrangeiros na Islândia. Não vou abordar neste post a temática do racismo. Em situações de instabilidade social e aumento do desemprego, inevitavelmente os emigrantes são o elo mais fraco. Aqui e em qualquer parte.
A verdade é que pouco antes do colapso uma equipa da TV Record brasileira veio à Islândia fazer uma reportagem. No final, o que foi para o ar foi um paraíso irreal que só existe na cabeça de quem desconhece a realidade. A ausência do vivencial, leva as pessoas a imaginar maravilhas que só existem quando olhamos o outro por uma janela. Descer à rua mostra-nos sempre outra realidade.
Creio que existe um mito sobre os países nórdicos. No caso islandês, este é um país nórdico atípico. Mas quem leu alguns posts anteriores já conhece algumas das minhas opiniões.
A baixa densidade populacional, é para mim uma das variáveis que permitiu aos países nórdicos apresentar uma boa qualidade de vida, nomeadamente na variável económica.
Thomas Robert Malthus, escreveu no século XIX, dois ensaios sobre o princípio da População, defendendo que o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade, já que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Queria isto dizer que a produção de alimentos não acompanharia as necessidades que o crescimento geométrico da população iria sentir.
A Islândia tem um território 10% superior a Portugal e apenas 300 mil habitantes. Imagine-se 11 milhões de habitantes na ilha e as inevitáveis consequências sociais, económicas, bem como a interferência castradora do meio ambiente.
Todos os países nórdicos tem uma reduzida densidade populacional. Contudo, as taxas de suicídio são das maiores no mundo.
Somos seres eminentemente sociais e quando se fala de economia na televisão, parece que por vezes, todos estão esquecidos que estão a falar numa ciência social.
Quem acompanha este blog sabe da importância da actividade musical na Islândia, tanto pela número de academias de música e arte, como pela quantidade de concertos e festivais que coloca o mercado interno em actividade constante, independentemente das áreas e estilos musicais.
Chegando a esta altura do ano, e seguindo aquilo que é uma constante na imprensa mundial, elegem-se os melhores discos dos últimos doze meses.
Sendo assim, vou deixar aqui a lista dos melhores discos islandeses de 2008 do Fréttablaðið, um dos diários de referência do país.
1. Sigur rós – Með suð í eyrum við spilum endalaust
2. FM Belfast – How to make friends
3. Dr. Spock – Falcon Christ
4. Lay Low – Farewell good night`s sleep
5. Mammút – Karkari
6. Sing Fang Bous – Clangour
7. Emiliana Torrini – Me and Armini
8. Retro Stefson – Montaña
9. Celestine – At the borders of Arcadia
10. Reykjavík! – the blood
Como fiz uma pequena pesquisa de forma a juntar a opinião de outras entidades (individuais e colectivas) poderei realçar outras edições do ano que findou.
Entre elas estão Evil Madness – Demoni paradiso; Bang Gang – Ghosts from the past (já falei sobre eles neste blog. Ver (http://iceland-views.blogs.sapo.pt/8066.html); Bragi Valdimar og Mamfisma Fian – Gilligill; Hugi Gudmundsson – Apocrypha; Ísafold – All sounds to silence come; the Viking Giant Show – the lost garden of the hooligans; Pikknikk – Galdur; Jeff Who? – Jeff Who? (ver neste blog em http://iceland-views.blogs.sapo.pt/9440.html), entre outros.
Os FM Belfast ocupam o segundo lugar da lista das melhores edições de 2008 com o disco How to make friends. O grupo de Reykjavík vagueia pelas ondas do Electro/Indie/House e o seu disco não deixa de lembrar-me, muitas vezes, os Gus Gus (ver post neste blog: http://iceland-views.blogs.sapo.pt/2513.html).
Actuaram na Casa da Música em Fevereiro, escrevendo no seu site “Porto were great great great. In Portugal we played in this weird house. It was an architectural wizardry of some sort. We managed to get lost in the building at least four times. All the people that came to our concert were so fabulous. The even danced so we decided to give them medallions. Múm and Bloodgroup played as well and they were both fun to see”.
Neste vídeo o tema é o delicodoce e retro-aveludado Par avion. Se pretenderem conhecer mais, fica o my space e o website dos FM Belfast.
Os votos de um 2009 pleno de realizações, com um zumbido nos vossos ouvidos!
Lay Low é a banda alter-ego da jovem cantora folk/blues/country Lovisa Elisabet Sigrunardottir que lançou o seu segundo álbum em 2008, ficando em 4º lugar da lista do Fréttablaðið.
No vídeo o tema By and By, aqui numa gravação em directo na igreja at Frikirkjan em Reykjavik.
Para quem quiser pesquisar mais, fica o my space e o respectivo website.